José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

1 – Uma nova revista, destinada aos tempos livres, apareceu nas bancas portuguesas, com rubricas como cinema, teatro, artes, livros, música, o habitual. Quer dizer: sobre os lazeres da cidade – de Lisboa, bem entendido. E como se chama ela? "City"! Será porque o director é inglês? Então edite a revista toda em inglês – para quem saiba (ou seja) inglês!

2 – Um novo programa foi para o ar no canal televisivo português SIC, no passado dia 30 de Setembro. É um programa de debate sobre a regionali...

Pergunta:

Gostaria de saber a diferença entre as palavras: «ao encontro de»/«de encontro a».

Resposta:

Ao encontro de tem o sentido de «em busca», «na direcção de», «encontrar-se com», «sair ao caminho», «ir ter com quem vem», «sair à frente de», «agir antes de alguém»: «Foram todos ao encontro do novo presidente», «fui ao encontro dos seus desejos». A expressão «ir ao encontro de» tem ainda o sentido figurado de «captar o agrado ou a benevolência», «corresponder ao desejo»: «Solicitavam-lhe o beneplácito, indo ao encontro da sua vontade com mercês e pompas de maiores galardões» [in Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida].

De encontro a tem um sentido de oposição, enquanto a expressão ao encontro de significa exactamente o contrário. «Fui de encontro aos teus desejos [contra os teus desejos].»

Transcrevendo de novo um exemplo citado por Napoleão Mendes de Almeida: «"Eu pensava vir de encontro aos seus desejos quando requeri que...", disse o funcionário, admirado com a negativa do despacho. "O senhor veio realmente de encontro aos meus desejos, tanto assim, que lhe indefiro seu requerimento", respondeu o superior hierárquico.»

Prestação, do latim "praestatione": acto ou efeito de prestar; cota, contribuição, pagamento escalonado. Ou, quando muito (no Brasil): alcunha de todo o vendedor ambulante de mercadorias a prestações.
   Isto é o que registam os dicionários, o que dirá qualquer lusofalante, independentemente do seu nível cultural, a não ser que tenha aderido ao chamado "futebolês" e repita esse estereótipo, mais um, tanto ao gosto do me...

O secretário de Estado do Ensino Superior do Governo português, Alberto Jorge Silva, pronunciou-se (na rádio pública RDP), no passado dia 31, sobre as maleitas crónicas do seu sector. E, às tantas, passou a empregar esse escusado e inestético galicismo «plafonamento». Não há dúvida: com governantes destes nas escolas portuguesas, muito terão de aprender os alunos portugueses a estimarem a sua própria língua.

«"Vão haver" muitos troços de Carnaval» - anunciava um dos eficientes repórteres do trânsito da rádio portuguesa, alertando os automobilistas mais desprevenidos para esta terça-feira de máscaras, folguedos e cabeçudos de ocasião. Confirmava aqui dois aspectos comuns a tais repórteres: a utilidade e os pontapés na gramática. A forma como empregam o infeliz verbo haver, essa, então, é um Entrudo diário.