José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

P. S. - «Foi retirado o texto que anteriormente se encontrava neste local, tendo em conta eventuais interpretações ofensivas contra terceiros que poderiam resultar da utilização da palavra "analfabetos". Ciberdúvidas da Língua Portuguesa não teve, não tem nem nunca terá como seu objectivo a ofensa de terceiros e admite que o termo usado e o contexto da Internet (globalidade e permanência) pode causar lesão à Ideias e Letras, Traduções e Legendagem, Lda.»

Se cumprisse minimamente as atribuições custeadas pelos 10 milhões de contos que recebe do bolso dos contribuintes, a rádio portuguesa dita de serviço público RDP começaria por ser um modelo do português aí falado. Nas vozes como na pronúncia (não passa por ai o crivo do acesso a um microfone?), mas também na propriedade vocabular e na correcção sintáctica. Era o mínimo, porque, noutras sintonias (como a BBC de Londres, em relação ao inglês, por exemplo), a perfeição é a meta e a elegância o req...

Pergunta:

"Houveram" é passível de utilização na língua portuguesa?

Resposta:

Só quando no sentido de ter: «Houveram de esperar largo tempo.» A conjugação normal também se utiliza quando o verbo haver se encontra ligado a um qualquer infinito: «Eles hão-de ir à rua». Estas são excepções raras à significação comum de haver = existir, como está referido em diversas respostas anteriores e, até, no Pelourinho, tantos os tropeções de palmatória neste b-a-bá de qualquer escola primária.

No sentido de existir, o verbo haver é, pois, sempre impessoal: não tem sujeito e, por isso, apenas se emprega na 3.ª pessoa do singular. «Houve deputados que votaram em branco» e não: «"houveram" deputados...»

Uma nutrida comitiva governamental portuguesa anda pelo Brasil e, agora, pela Argentina, numa daquelas maratonas oficiais de muita conversa, montanhas de promessas e de nulidades práticas, quase sempre. E como coincidiu com o tricentenário da morte do padre António Vieira, a língua portuguesa foi a sobremesa obrigatória, servida na hora dos discursos.
    E entre hossanas, compromissos regados a champanhe e incentivos de conveniência, só faltou o primeiro-ministro António...

Outro caso de tantas vezes mal dito, e repetido, ainda por cima na televisão, é o substantivo rubrica. /Ru-brí-ca/, pronunciado assim mesmo, como palavra grave. Mas, na RTP, por causa da Assembleia-Geral do Benfica de sábado passado, lá voltou a ouvir-se "rúbrica", como se fosse uma palavra esdrúxula.
     É verdade que as contas do Benfica, como voltou a ver-se na final perdida da Taça de Portugal, na terça-feira, andam mais que gatadas. Mas para quê ar...