José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

 Idem (o mesmo, também) e ibidem (no mesmo lugar, na mesma passagem) são expressões latinas, adjectivo a primeira e advérbio a segunda, muito utilizadas nas citações bibliográficas para se evitar a repetição do que acaba de se escrever. Nas citações bibliográficas e, por analogia, naquelas secções de jornais, por sinal muito lidas, tipo "Diz-se".
     Só que, nalguns jornais, quem o faz não sabe o elementar. E um erro várias vezes repetido, já se sa...

Pergunta:

Qual o significado da palavra Timor?

Resposta:

A origem da palavra Timor é malaia, Timur, que significa "leste", "oriente". Como se lhe refere Artur Basílio de Sá, nos seus "Textos em Teto da Literatura Oral Timorense" (Estudos de Ciências Políticas e Sociais, 1961), originalmente, «timur ("leste") é um dos pontos cardeais em malaio. Utara é "norte", selatan, "sul", timur, "leste", e barat, "oeste".

Timur, que significa "oriente", é também o nome indígena da ilha (...). De Timur, palavra grave, os Portugueses fizeram Timor, vocábulo agudo, mais ao jeito dos seus hábitos articulatórios, pelo qual passaram a designar a mesma ilha, onde se encontra a parte mais oriental de todas as ex-colónias portuguesas.

Da própria etimologia do seu nome, portanto, parece poder deduzir-se que, para aqueles povos insulares,Timor era um ponto conhecido, concreto e determinado, dentro duma extensão geográfica indefinida, abstracta e vaga: o padrão indicativo do Levante enigmático. Nos primeiros documentos portugueses, Timor ainda aparece como designação vaga de Oriente.

É esta ilha a maior de todas as que formam o arquipélago da Pequena Sunda, um dos muitos em que se divide aquela zona insular, a que os navegadores portugueses, outrora, chamaram Mares do Sul e os geógrafos modernos Insulíndia, Indonésia e Malásia, vislumbrando-se no conteúdo semântico destes termos a presumível estrutura física de tão repartidas ilhas, ou as características antropológicas de tão variadas gentes».

Pergunta:

Os nossos ilustres homens do relato desportivo são de facto uma «nascente» de novos conceitos!

Ultimamente tenho ouvido em vários relatos a expressão «...as incidências desta partida de futebol...» querendo referir os pormenores do jogo. Não há qualquer coisa estranha aqui?

Resposta:

O substantivo incidência existe, está bem formado e José Pedro Machado regista-a no seu dicionário – mas num sentido completamente diferente, até, do utilizado no chamado "futebolês" falado (neste caso, relatado). No caso em apreço, o sentido é exactamente o contrário.

«... as incidências do jogo» X, na deles, os relatores de futebol hoje tão pouco adestrados na utilização da Língua Portuguesa, acredite, pretendem significar «o que é (mais) incidente». Chama-se a isto impropriedade vocabular, que é uma das mais desagradáveis características da linguagem futeboleira. A outra é o falar complicado. 

Cf. Pelourinho, no Glossário de erros e nas Respostas Anteriores outras referências a este mesmo tema.

Pergunta:

É mais correcto dizer "islamita" (por origem da palavra ser Islãm, como rezam alguns canhenhos) ou "islâmista" (como impôs o uso e a comparação com a doutrina – islalamismo)? Alguma das formas é incorrecta? Antecipadamente grato.

Resposta:

"Islamista" é uma corruptela de islamita. É esta a forma remendada. Vem do francês islamite, dicionarizado em português desde 1890, por António Morais da Silva. A formação de islâmico (e nunca "islâmisco") é análoga: de Islã, Islame, Islão, qualquer delas derivada do árabe islãm, «à vontade de Deus», como se lhes refere José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico (Livros Horizonte, Lisboa).

Geração rasca chamam-lhe. À dos estudantes que, nas universidades portugueses, baixaram ao nível mais pimba as bandeiras das suas reclamações. Mas se eles são de geração rasca, que dizer de quem, por sinal de uma geração anterior, falando deles e do autismo dessa sua luta contra a propina única, diz na rádio que "o PSD acha que 'devem' haver propinas"?

Que dizer de quem diz assim o verbo haver, se ele se trata de um deputado, o deputado Carlos Coelho, que até foi secretário de Estado do Ensi...