José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Faz parte das regras do jornalismo: as pessoas, todas as pessoas, têm tratamento idêntico. Idêntico no respeito individual de cada um, independentemente do seu estatuto, condição social, cultural, económica, política ou qualquer outra. Por isso, na imprensa, está há muito fora do uso a anteposição dos cargos ou dos títulos académicos, salvo em circunstâncias especiais - e nunca por razões de reverência.

Mas o contrário também é regra. Ninguém deve ser tratado de forma depreciativa ou de algum ...

1 - Frederico Leal nunca disse, de facto, que era tradutor. "Mea culpa", extensível aos tradutores - que, até por razões de ofício, sabem que nesta questão da equivalência do bilião toda a prudência é devida. Precisamente porque lidam todos as dias com o divergente sentido das duas ordenações, mesmo em países como em Portugal onde o bilião é = 1 milhão de milhões, isto é, 10 elevado a 12.

Se dizemos dezenas de mortos (ou de vivos, ou de feridos, ou de deslocados, ou de qualquer outra unidade, do que quer que seja), por que razão se há-de enunciar o milhar só no singular, quando o milhar tem plural? Dezenas de "milhar" de mortos em vez de milhares, porquê? O numeral cardinal milhar não funciona, aqui, como adjectivo (tal como em milhares de outras frases de semelhante analogia, fale-se de pessoas, de laranjas ou de carneiros)?

Ponto prévio: Ciberdúvidas não ministra cursos universitários, daqueles em que se descreve academicamente a história da língua e se divaga sobre as ramificações da sociolinguística. O que se propõe é bem mais simples. Se calhar, até mais difícil: ajudar a resolver as dúvidas que se colocam ao comum dos lusofalantes, do ponto de vista da ortografia, da sintaxe ou da simples pronúncia.

Pergunta:

Qual é a diferença entre coser e cozer?

Resposta:

Coser, com s (do latim consuēre), significa «unir com pontos de agulha», «costurar».

Por exemplo:

«A ferida, de tão grande, teve de ser cosida no hospital». Ou: «Coser as calças (ou o vestido). Ou ainda: «Todos os dia ahavia roupas a cose, a lavar, a passar a fero» [Ferreira de Castro,  Terra Fria, p. 45, cit. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea).

Em linguagem coloquial, como se regista no Dicionário UNESP da Língua Portuguesa, coser também pode ter o sentido de «furar com balas ou faca» ou de «encostar-se», «grudar-se».

No primeiro caso:

«Coseram-no com várias facadas.»

E no segundo sentido:

«Durante a carga policial, muitos dos manifestantes coseram-se às paredes.»

 Já cozer, com z  ( e que provém do latim cocēre),  é o mesmo que «cozinhar», logo, preparar (alimentos) ao ...