José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

[A propósito da resposta A escrita das siglas de três clubes de futebol portugueses ] lamento contrariá-los, mas, o que a prática tinha consagrado durante dezenas e dezenas de anos, como se poderá comprovar na imprensa escrita existente nos respectivos jornais ou nas bibliotecas, bem como nas diversas publicações da especialidade, escrevia-se F.C. do Porto, F.C.P., como aparece na história deste clube, etc.

Poderei anexar, se desejarem, diversa documentação que atesta o que escrevi.

Em boa verdade, a ausência dos pontos é muito recente, por uma questão de preguiça, presumo.

Resposta:

Nada do que refere a consulente infirma o que se referiu na resposta em  causa: 1) A grafia das siglas com pontos ou sem pontos não  tem qualquer  regulamentação: nem nas gramáticas, mais antigas ou mais recentes, nem em qualquer vocabulário ortográfico. 2) Foi o uso generalizado – seguido  em todos os dicionários, prontuários, manuais de  estilo, jornais, livros de todas áreas e até nas gramáticas mais reputadas (v.g., a  Nova Gramática do Português Contemporâneo, de  Celso Cunha e   Lindley Cintra, e   Moderna Gramática Portuguesa, de  Evanildo Bechara) – que consagrou a grafia das siglas sem pontos.

Houve tempos que as siglas figuravam com pontos? Sim, é verdade. Só que esse uso assentava, tão-só, como agora, em critérios editoriais, e não em qualquer regra estabelecida… que nunca houve. E, mesmo assim, a opção não era uniforme.

Basta consultarmos publicações da época e constatamos, por exemplo, ora E.U.A./U.S.A., ora EUA/USA; O.N.U. e ONU; O.T.A.N./N.A.T.O. e OTAN/NATO; U.R.S.S. e URSS. E até a polícia política do Estado Novo tanto aparecia grafada com pontos (P.I.D.E., depois D.G.S.) como sem eles (PIDE/DGS). E muitíssimos mais exemplos se podiam dar.

Na minha opinião, o uso dos últimos 40 anos resulta de uma opção bem mais criteriosa. Acaso tinha alguma lógica ...

Pergunta:

Escreve-se "SL Benfica", "Sporting CP" e "FC Porto" ou "S.L. Benfica", "Sporting C.P." ou "F.C. Porto"?

Resposta:

Como se referiu em anterior esclarecimento no Ciberdúvidas, as siglas não dispõem de  normas regulamentadas nas gramáticas, nem constam da nenhuma das  normas ortográficas a lingua  portuguesa  (de 1911, de 1945 e de 1990). Nem sequer constam no Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa.

O que a prática consagrou e recomendam todos os prontuários e livros de estilo* é que se grafam sem pontos – ao contrário das abreviaturas. Um uso aplicável, também, quando, em vez da sua  designação por extenso, e  por opção de clareza,  se escreve só uma parte da sigla, como são os casos em apreço, correspondentes ao Sport Lisboa e Benfica,  Sporting Clube de Portugal e   Futebol Clube do Porto.

Portanto: SL Benfica (ou SLB), Sporting CP (ou SCP) e FC Porto (ou FCP).



*Cf.

Renato Borges de Sousa (1935-2019)
Uma vida dedicada à promoção da língua portuguesa no mundo

Açoriano de nascimento, Renato  Borges de Sousa dedicou toda a sua vida à promoção internacional da língua portuguesa – do ensino para estrangeiros até à realização das 20 edições da Expolíngua Portugal – Salão Português de Línguas e Culturas.

Pergunta:

Reparei que em algumas situações, de preferência nas manchetes e nos títulos das notícias, os media portugueses se referem ao Presidente da República português usando apenas o seu primeiro nome. Alguns exemplos: «Marcelo aposentado como professor universitário mas recebe apenas salário de Presidente» (Correio da Manhã); «Marcelo anuncia até Setembro de 2020 se concorre a segundo mandato» (Jornal de Negócios): «Marcelo quer ver a economia a crescer mais do que 2%» (RTP). Qual pode ser a origem desse costume?

Muito obrigado pelos esclarecimentos.

Resposta:

O uso do primeiro nome tem que ver com a sua maior familiaridade na comunicação social e por razões também de encurtamento de palavras na escrita jornalística. O próprio padrinho do atual Presidente português, Marcelo Caetano, era também referido frequentemente na imprensa do tempo só pelo nome – tendo dele derivado até os  termos «marcelismo» e  «[primavera] marcelista. São os casos de muitas outras  figuras políticas ou da área cultural, estrangeiras, inclusive: Napoleão (Napoleão Bonaparte), Samora (Samora Machel), Fidel (Fidel Castro), Getúlio (Getúlio Vargas), Jânio (Jânio Quadros), Juscelino (Juscelino Kubitschek de Oliveira)Otelo (Otelo Saraiva de Carvalho), companheiro Vasco (Vasco Gonçalves), Agustina (

Começar o ano, atropelando o <i>bilhão<i></i></i>

Se a Terra se localiza a cerca de 147 milhões de quilómetros de distância do Sol quando está menos distante, como é possível o asteroide Ultima Thule ficar «a cerca de 6,4 bilhões de quilómetros»?