Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Recebi esse e-mail e gostaria de saber se nas duas situações «vou ficar» e «estarei fazendo» encontramos o gerundismo, ou se seria gerundismo «vou estar ficando» e «vou estar fazendo».

«Queridos amigos, vou ficar até o próximo domingo afastada do PC pois estarei fazendo um congresso e com certeza não terei muito tempo para ver meus e-mails

Resposta:

Não considero que estejamos diante do famigerado gerundismo na frase que nos propõe. «Estarei fazendo» refere-se a uma ação no futuro que estará em andamento, cujo fim não contemplamos, é o aspecto imperfectivo ou durativo. Se a pessoa lhe mandou esse e-mail digamos na segunda-feira, ela estará envolvida com o congresso até domingo, ou seja, seis dias, ininterruptamente. Podemos ver isso claramente se transpusermos a frase para o passado:

«Fiquei até o domingo seguinte afastada do PC, pois estava fazendo um congresso.»

Há gerundismo em «Vou estar te ligando amanhã» se a pessoa ligar somente uma vez.

Mas o que me chama um pouco a atenção é fazer o congresso. Ela é organizadora? Palestrante? Ou simples participante? Pelo contexto, parece que seria ou organizadora ou palestrante, já que não teria tempo de responder aos e-mails, mas acho que muitas vezes se abusa do verbo fazer em vez de usar verbos mais precisos.

Pergunta:

Gostaria de saber que tipo de locução é a expressão «para com».

Resposta:

Trata-se de uma locução prepositiva. As locuções envolvem no mínimo dois elementos. O termo prepositiva vem do fato de referir-se a preposição.

Ver também esta resposta.

Pergunta:

Gostaria de saber qual é a pronúncia no português do Brasil para o plural da palavra gosto. No plural, primeiro o é aberto, ou fechado?

Agradecida.

Resposta:

O plural gostos tem o primeiro o fechado: "gôstos". Note que os dicionários costumam indicar a pronúncia do plural somente quando há metafonia, ou seja, a mudança de timbre fechado, no singular, para aberto, no plural, como é o caso de osso, novo, ovo, etc. Não havendo indicação nenhuma, salvo possível esquecimento, presume-se que a pronúncia do plural é a mesma que a do singular mais s.

Pergunta:

O jornalismo brasileiro baniu completamente a mesóclise e rarissimamente a vejo empregada em revistas ou noutras publicações. Credes, então, que o futuro da mesóclise aqui no Brasil é o inteiro esquecimento? Como explicais a aversão que aqui existe em relação a ela?

Muito grato!

Resposta:

De facto parece que a mesóclise nunca é usada na linguagem jornalística, mas ainda se vê esporadicamente na literatura. Concordo com o senhor que, lamentavelmente, a tendência é para o seu desaparecimento. No caso da linguagem jornalística, os próprios guias de estilo das grandes empresas de comunicação dissuadem os jornalistas de usar a mesóclise, tachando-a de pernóstica ou arcaica e pedindo-lhes que reformulem a frase caso tenham de encetá-la com pronome átono mais verbo no futuro do presente ou do pretérito. Contudo, parece que em Portugal também há essa tendência, ainda que menos acentuada que no Brasil (ver aqui). Recordo aos defensores da mesóclise, entre os quais o senhor se encontra, que também não se deve fazer uso dela sem critério, já que existem os famosos factores de próclise de que se tem falado tanto aqui no Ciberdúvidas.

Pergunta:

Tenho notado o uso do verbo submeter e do substantivo submissão frequentemente em mensagens sobre projetos científicos, em expressões como «prazo de submissão do projeto» ou frases como «o prazo para submeter o artigo está terminando». A única explicação em que consigo pensar é influência da língua inglesa to submit, pois nos dicionários em que procurei não há nenhum registro do uso de submeter nesse sentido.

Obrigado.

Resposta:

O uso cada vez maior de submeter como submit deve-se muito provavelmente à influência inglesa, mas veja que mesmo em português há um significado parecido no Aulete Digital, acepção 1:

«Fazer que se renda ou obedeça, ou render-se, obedecer.»

Uma extensão de sentido como «submeter, meter, pôr embaixo de alguém, pôr embaixo dos olhos de alguém para que tal pessoa aprove ou não algo» parece-me bem possível por causa do prefixo sub. Procurei submittere em latim no Dictionnaire Gaffiot Latin-Français e não encontrei nada como «submeter um documento», mas pode-se ver que já em latim o verbo significava «submeter alguém ao jugo de outrem, etc». O interessante é que o Priberam parece não acolher esse significado de submeter. Veja que, sobre o cognato espanhol de submeter, someter, o Diccionario da Real Academia Española diz algo semelhante também (acepções 4 e 5):

«Proponer a la consideración de alguien razones, reflexiones u otras ideas»; «Encomendar a alguien la resolución de un negocio o litigio.»

Tradução livre: «Propor à consideração de alguém razões, reflexões ou outras ideias»; «Atribuir a alguém a resolução de um negócio ou litígio.»

O mesmo acontece com o cognato italiano, sottomettere, de acordo com o vocabulário do sítio do