Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
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Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares; curso de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e curso de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo).

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem quanto à forma correta de citar imagens.

Muito grata.

Resposta:

Na sua questão, há que distinguir duas situações: a citação de imagens insertas em monografias (livros) e a citação de documentos iconográficos.

Relativamente à primeira, seguem-se as regras previstas na NP 405 – norma oficial portuguesa para a referenciação bibliográfica. Neste caso, a citação de uma imagem – fluxograma, organograma, gráfico, quadro ou fotografia – é muito semelhante à de uma citação textual. Faz-se apenas preceder a citação da obra em que a imagem se encontra dos elementos que a permitam identificar.

Exemplos:

(1) «O enfoque manipulativo das relações humanas». Fluxograma. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 221.

(2) «Organograma diagonal ou europeu». In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 309.

(3) «Ciclos de vida de alguns produtos». Gráfico. In Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 288.

(4) «Componentes do vetor de crescimento». Quadro. In H. Igor Ansoff – Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1977, p. 92, cit. por Idalberto Chiavenato – Teoria geral da administração. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987, 1.º vol., p. 289.

(5) «Trotsky». Fotografia. In John Kenneth Galbraight – A era da incerteza: uma história das ideias económicas e das suas consequências. Lisboa: Moraes, 1980, f. intercalada a p. 144.

A menção do ...

Pergunta:

A dúvida prende-se essencialmente com o uso do ponto e vírgula (;).

Gostaria que me esclarecessem, com base nos exemplos abaixo constantes, o cenário mais correto.

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região.

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea.

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

«Objetivos Gerais:

– Divulgar e promover a bebida Bubble Tea na nossa Região;

– Dar a conhecer a história e o processo de produção do Bubble Tea;

– Criar Bubble Teas com produtos regionais.»

[Há quem afirme] que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maiúscula e no final a aplicação de um ponto. A minha versão é que, após a utilização de :, deve começar-se uma enumeração com letra maíuscula e no final a aplicação de um ponto e vírgula.

[Assim:]

– devo [pensar] que, quando se inicia uma enumeração com letra maiúscula, devo terminar a frase com um ponto?

– devo concluir que, quando se inicia uma enumeração com letra minúscula, devo terminar a frase com um ponto e vírgula?

É assim tão linear esta questão?

Todas as gramáticas que consultei, bem como a Constituição da República Portuguesa, art. 70.º, mencionam que cada alínea abre um parágrafo e começa com letra maiúscula e termina com um ponto e vírgula.

Obrigada.

Resposta:

A questão, como sugere, e bem, não é linear, encontra apoio bibliográfico pouco sólido e o que existe é díspar. As regras da legística, por exemplo – aludindo aqui ao exemplo que refere da Constituição da República Portuguesa – preconizam que: «na elaboração de um ato normativo, deve ser utilizada a letra maiúscula […] na letra inicial da primeira palavra de qualquer frase, epígrafe, proémio ou alínea ou subalínea» [alínea a) do n.º 1 do art.º 20.º do anexo II da Resolução do Conselho de Ministros n.º 29/2011, de 11 de julho], subentendendo-se, pela utilização do ponto e vírgula final no próprio articulado da norma, que o defendem para separar cada um dos itens enumerados. Há ainda outras fontes como gramáticas, manuais de estilo, manuais de redação, de revisão, de artes gráficas e afins, que defendem o uso da maiúscula inicial nas enumerações, sendo, porém, muitas vezes omissos no que diz respeito ao facto de cada um dos itens enumerados terminar em ponto final ou em ponto e vírgula, mas também as há que defendem a utilização da minúscula.

A prática em Portugal é, pois, variada, e admite vários critérios. Já a tradição francesa das artes gráficas, por exemplo, consagra algumas variantes. O Lexique des règles typographiques en usage à l’Imprimerie Nationale (Paris: Imprimerie Nationale, 1990, p. 39-40) refere que no começo de uma alínea, mesmo se esta não for início de frase, se usa a inicial maiúscula, quer a alínea se inicie logo pelo texto, por um número, ou letra, desde que seguidos por um ponto (1., 2., 3.; a., b., c.); mas, ao contrário, se o texto for antecedido de meia-risca ou de travessão, já preconiza a minúscula in...

Pergunta:

Há alguma diferença entre epíteto e cognome? Posso dizer que «o Conquistador» é o epíteto de D. Afonso Henriques, ou devo dizer apenas que é o cognome de D. Afonso Henriques? Há alguma regra que obrigue ao emprego da palavra epíteto ao invés de cognome, ou é apenas uma questão de opção?

Muito obrigada.

Resposta:

As expressões epíteto – do grego epítheton, pelo lat. epithĕton ou epithĕtum, i – e cognome – do latim cognomen, -inis – são sinónimas. Epíteto e cognome são nomes ou expressões acrescentadas aos nomes. Isto é o que grande parte dos dicionários regista e a língua em ato chancela, como o atesta no mesmo texto este exemplo recente:

«Habituámo-nos a esta guerra de números, como se fosse normal não se apresentarem valores sindicáveis da adesão a uma greve que ostenta o epíteto de "geral"» […] Podendo-se desde logo questionar se a greve, geral ou particular, ainda faz sentido como única "forma de luta" das chamadas classes trabalhadoras, parece inevitável concluir que só se deve convocar uma greve geral quando estão criadas as condições para que mereça o cognome (Fernanda Câncio – "E sindicar a greve?", Diário de Notícias, 25 de novembro de 2011).

Apesar disto, cognome parece ser sobretudo utilizado para qualificar nomes próprios. Facto a que não será alheio o uso originário da palavra. É que na Roma antiga o cognome era o nome de família. Ao passo que epíteto se usa de forma alargada e indiscriminada em nomes próprios e comuns. Epíteto assume-se como um qualificativo que se adiciona a um nome para melhor o definir. Na literatura, por exemplo, distinguem-se os epítetos de natureza, permanentes, imutáveis – como «mar salgado» – dos epítetos de circunstância, que caracterizam estados passageiros, transitórios – como «mar revolto». Ainda que também se use epíteto para qualificar nomes próprios como o atesta Camões, no canto X de

Pergunta:

Gostaria de saber se o apelido Canto e Castro é composto.

Resposta:

Os apelidos* compostos são apelidos em que o primeiro e o segundo nomes possuem uma relação gramatical direta entre si e que assim se constituíram originariamente. É o caso de Castelo Branco ou Paço de Arcos, no que se refere a apelidos derivados de topónimos, Espírito Santo ou Santa Rita, no que se refere a apelidos derivados de nomes religiosos, ou outros, como Corte Real, em que o segundo elemento claramente qualifica o primeiro e assim se constituiu originalmente. Os apelidos compostos não são formados a posteriori através de relações de casamento. Por esta via, apenas se adquirem e se transmitem se assim já estiverem formados.

São também apelidos compostos alguns nomes derivados de alcunhas, tais como Mil Homens ou Todo Bom, ou aqueles que resultam de uma relação de parentesco direta, em que há um segundo elemento que é aposto ao primeiro e que diretamente o qualifica, casos de Cartaxo Júnior ou Portela Filho.

Em todos os casos, os dois elementos formam uma unidade reconhecível. No caso que refere – Canto e Castro – não há qualquer relação gramatical direta entre os dois nomes que os constituem como unidade inicial, parecendo ter-se formado por via familiar e, como tal, não caber no conceito de apelido composto. Isto apesar de o uso ter generalizado a referência conjunta aos dois apelidos, o que, aliás, também acontece em muitos outros casos, sem que tal faça deles apelidos compostos.

* Sobrenomes no Brasil.

«Alguns destes palcos persistiam até agora e as pessoas capazes de abandonar o que quer que seja para se entregarem à jihad atingem hoje dezenas de milhar, rumando à Síria e ao Iraque».

Expresso, Primeiro Caderno, 9 de agosto de 2014, p. 38.