Será que ninguém pode explicar ao primeiro-ministro António Costa que a palavra é competitividade (competitivo+idade = competitividade)?
Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.
Será que ninguém pode explicar ao primeiro-ministro António Costa que a palavra é competitividade (competitivo+idade = competitividade)?
Pergunto se é aceitável, do ponto de vista gramatical, dizer-se «Ela deve alimentar-se de verduras».
Obrigado.
O verbo alimentar, enquanto verbo transitivo direto e pronominal, com o sentido de «dar sustento a ou sustentar-se; nutrir(-se), alentar(-se)», é seguido da preposição de, portanto a oração apresentada «ela deve alimentar-se de verduras» é uma frase gramaticalmente correta. Neste caso podemos ainda referir «ela deve alimentar-se com verduras» sem que o significado da oração se altere, ou seja, a opção pela preposição de ou com não altera o significado da oração e confere-lhe o significado de «ela se alimentar ingerindo verduras».
A palavra "curcuma" é uma palavra esdrúxula ou grave?
Obrigada.
O substantivo curcuma (planta da família do gengibre, originária da Ásia), em português de Portugal, é grave ou paroxítono, isto é, a sílaba tónica é a penúltima1: cur.cu.ma. Contrariamente, em português do Brasil grafa-se geralmente cúrcuma com acento a marcar a silaba tónica2. Aqui estamos perante um substantivo de acentuação esdrúxula ou proparoxítona, cuja sílaba tónica é, portanto, a antepenúltima.
1 Cf. Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC.
2 Cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras.
Considero-me razoavelmente puritano na escrita de português e algumas situações ficam-me na memória. Relembro uma aula de Português em que o meu Professor insistia no uso de substantivos como «motivo» ou «razão» em vez de «porquê». Um exemplo: «Quero saber o porquê de estares chateado» deveria-se escrever (e dizer) «Quero saber a razão/o motivo de estares chateado».
Esta premissa do «não uso» da palavra «porquê» como substantivo entrou-me na cabeça e, na maioria das vezes que vejo alguém escrever ou ouço alguém dizer «o porquê», faço questão de referir o supracitado. Usar «o porquê» é menos correto? Mais feio?
Obrigado!
Porquê, enquanto substantivo masculino, é sinónimo de motivo ou razão, pelo que dizer «Quero saber o porquê de estares chateado» «Quero saber o motivo de estares chateado» ou «Quero saber a razão de estares chateado» tem o mesmo significado. No entanto, neste caso podemos ter em consideração a questão estilística, o uso de «o porquê» em substituição de «o motivo» ou «a razão» pode dar a ideia de um discurso menos elegante. Também de salientar que o uso de «o porquê» é mais frequente no português do Brasil, como atesta o Corpus do Português de Mike Davies.
Relembre-se que porquê se pluraliza como porquês.
Obs.: Porquê também é um advérbio interrogativo que significa «por que razão» e, neste caso, não tem plural.
Nas gramáticas que consultei, não encontro "legislado" o uso de maiúsculas em palavras comuns quando se pretende realçar o seu significado. Por exemplo, na frase «O Amor é um sentimento nobre», pergunto se não é tolerável/aceitável o uso de maiúscula ("Amor").
Obrigado.
No Acordo Ortográfico de 1990 (AO) não é explicíta uma situação como a do caso apresentado. No entanto, podemos consultar a alinea i) do ponto 2 da base XIX do AO – «opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente e hierarquicamente, em início de versos, em categrização de logradouros públicos [...]» –, aceitando que o uso de maíuscula é permitido quando usamos substantivos do foro filosófico/espiritual em posição de reverência.
Para melhor esclarecimento, interessa também consultar o que refere o Acordo Ortográfico de 1945 (vigente até 2009) na base XLII: «Escrevem-se com maiúscula inicial os substantivos que designam altos conceitos políticos, nacionais ou religiosos, quando se empregam sinteticamente, isto é, dispensa quaisquer qualificativo». Ora, também nesta base não é claro o uso de maiúscula em substantivos como amor. Contudo, o Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, p. 334), de Rebelo Gonçalves, previa o uso da maiúscula inicial «nas palavras de sentido espiritual ou moral às quais se queira [...] dar realce», dando como exemplos «a Arte», a «a Beleza», «a Ciência», «a Cultura», «a Justiça», entre outros. É, pois, possível assumir que amor pode ser utilizado num sentido espiritual ou filosófico e, assim, numa perspetiva muito ampla, próximo do religioso, o que também permitiria o uso da maiúscula.
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