Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «Até meados dos anos 1980, mais de metade de todas as mulheres casadas se uniu à força de trabalho», está correto dizer «mais DE metade»?

O certo não seria «mais DA metade»?

Resposta:

A frase apresentada está correta. Acontece que, antes das chamadas expressões partitivas, colocamos a preposição sem o artigo definido. Veja-se outros exemplos, onde é mais claro a impossibilidade de utilizar a preposição contraída com o artigo definido:

(1) «Mais de um terço das mulheres não votou.»

(2) «Mais de duas centenas de mulheres não votou.»

Assim, à semelhança de (1) e (2), teríamos «[...] mais de metade de todas as mulheres [...]». 

Não obstante a norma referida, há registos da expressão «mais da metade». Acontece que a expressão se tornou corrente, apesar de fugir ao padrão de uso.

Pergunta:

 «... vestia de branco...»

Branco, nesta expressão, como se classifica morfologicamente?

Resposta:

Branco, na oração que sugere, classifica-se como um nome comum equivalente à expressão nominal cor branca.

Veja-se um exemplo mais completo: «A mulher vestia de branco a filha». Percebemos, aqui, que existe uma mulher que veste uma filha com roupa de cor branca.

Pergunta:

Posso, ao questionar, utilizar quem na seguinte frase abaixo, quando refiro ao grande império Romano?

«Quem foi Roma?»

Me soa melhor «o que foi Roma?», porém quando penso em termos de quem realizava , fico na dúvida.

Obrigada.

Resposta:

O pronome interrogativo quem refere-se a pessoas e, por isso, não parece plausível utilizá-lo em referência a um aglomerado urbano, como será o Império Romano.

No entanto, podemos justificar o uso de quem na questão «quem foi Roma?» se, por Roma, entendermos toda a população que constitui a cidade ou o império – «quem foi a população de Roma?». Estamos perante um jogo de palavras que configura uma construção frásica forçada, que, não obstante, pode ocorrer em contexto literário, por uma questão de estilo, como personificação.

Pergunta:

O verbo coagir deve usar-se com o auxiliar ser ou estar?

«Estar coagido a...», ou «ser coagido a...»?

Resposta:

O verbo coagir, registado com o significado de «obrigar por coação; constranger a praticar ou a não praticar um ato» (Dicionário da Porto Editoraem linha), não obriga ao uso de auxiliares como os verbos ser ou estar. Veja-se os exemplos, pelos quais se verifica que o verbo se usa na voz ativa:

(i) Um dos filhos deles é acusado de coagir testemunhas;

(ii) O homem coagiu uma mulher um dia após ela ter prestado declarações. 

Por outro lado, a oração pode estar na voz passiva, e, se assim for, o particípio passado, no caso o verbo coagir, é introduzido pelo verbo ser ou estar, como sugerem os seguintes casos: «A testemunha foi coagida pelo suspeito»; «Pela lei, a testemunha está coagida a depor».

Pergunta:

Qual a diferença entre os verbetes preço e preçário? Através de uma pesquisa vi que alguns sites usam preço e outros preçário, mas não consegui entender em que situação se usa um ou outro.

Resposta:

A despeito desse uso indistinto, ambos os substantivos se distinguem um do outro. Preço  tem o sentido de «valor, em dinheiro, de um objeto, de um bem ou de um serviço; custo» (Dicionário da Porto Editora, em linha): Preçário significa a «relação de preços; regulamento de preços aprovado oficialmente» (idem). Assim, quando usamos o substantivo preço estamos a falar do valor de determinado objeto, isolado, ou o conjunto de vários objetos, por exemplo. Por outro lado, quando nos referimos a preçário estamos a falar de uma tabela, lista, etc. onde consta o valor de todos os objetos isoladamente. Esta tabela é reconhecida como tendo os preços autorizados a praticar.