DÚVIDAS

A classe morfológica de um – II
Saúdo o regresso do nosso Ciberdúvidas. Ele faz falta a quem, diariamente, há anos, se lhe habituou à companhia. 1. Pequeno comentário à seguinte resposta vossa: «a palavra queijo, apesar de não ter uma concretização lexical na segunda oração, acaba por estar presente de forma subentendida: «Eu comprei um queijo, e tu ainda me deste um [queijo].» — Logo, aquele segundo um seria artigo indefinido, como o primeiro. Não seguimos tal opinião. Os pronomes estão sempre em vez duma palavra que, ausente, poderia estar presente. Mas, porque o não estão, é que há pronomes. Se fosse válido este princípio do Ciber, desapareceriam os pronomes possessivos, demonstrativos e muitos indefinidos. E eles fazem falta ao estudo da frase. A análise categorial tem de ser capaz de atribuir categoria às palavras da frase — independentemente daquelas que lá poderiam estar. 2. Embora seja aceitável (?) a classificação daqueles um como determinantes artigos indefinidos, é minha opinião que se trata de dois quantificadores, sendo um adjectival e outro pronominal. «Eu comprei um queijo, e tu ainda me deste um» [Fiquei com dois]. 3. Porque tenho muito respeito pelo trabalho dos colegas, só discordo se propuser uma alternativa. É o que faço agora: «Eu comprei um queijo...» — um: quantificador adjectival determinativo (numeral cardinal) «e tu ainda me deste um» — um: quantificador pronominal  (numeral cardinal). Justificação: Os quantificadores constituem uma categoria gramatical de cariz predominantemente semântico que, no entanto, lhes não cumula a função. Na realidade, eles desempenham uma função transversal a diversas categorias de palavras, e podem ser quantificadores adjectivais, pronominais e adverbiais.Na análise categorial, é nossa opinião que deveremos sempre referir a classe própria: quantificador, seguida da classificação categorial complementar. Foi o que fizemos na descrição proposta. Eu teria muito gosto em discutir esta análise com o Autor da resposta — eu não sou dono da Verdade! —  mas não é — não tem sido — esse o entendimento do Ciber, e só me resta aceitar.
A sintaxe do verbo decorrer (= passar) e do substantivo voto (no plural)
Gostaria de saber qual das seguintes frases está correcta ou é a mais correcta: A. «… decorridos que estão três anos e meio desde a entrada em vigor da Lei n.º…»; «… decorridos que estão três anos e meio sobre a entrada em vigor da Lei n.º…»; ou «… decorridos que estão três anos e meio da entrada em vigor da Lei n.º…». B. «Faço votos para que tenhas um bom dia»; «Faço votos que tenhas um bom dia»; ou «Faço votos de que tenhas um bom dia». Obrigada! Parabéns pelo vosso excelente trabalho!
O uso de crase com a «casa de X»
Preciso entender melhor o uso da crase. Nas gramáticas brasileiras, usamos o acento grave antes da palavra casa, só quando vier modificando. «Cheguei a casa cedo.» «Cheguei à casa de meu pai.» Na segunda frase, está explicando que não é a minha casa. Eu tenho uma amiga portuguesa e fiz esta pergunta para ela. Ela disse que ela não usaria acento grave desse caso. Fiz uma consulta e vi uma explicação de vocês, mas não entendo se é diferente em Portugal. Eu gosto muito de conhecer a diferença entre os dois países. Obrigada.
A locução «ao passo que», novamente
Gostaria de ter uma dúvida esclarecida referente à locução conjuncional «ao passo que». Antes de perguntar, estava pesquisando e vi que já há uma pergunta e respectiva resposta, é a 25 867, «Ao passo que»: locução conjuncional coordenativa adversativa. Pesquisando na gramática do Celso Cunha, ele classifica essa locução como proporcional, e não como adversativa. Nesse caso, então, os dois casos estariam certos, sendo, portanto, uma polissemia conjuncional? Obrigada.
A função desempenhada pelo quantificador numeral cardinal três
Na frase «As três questões foram ignoradas», o quantificador numeral cardinal três pode ser considerado um modificador restritivo do nome? De acordo com as gramáticas, normalmente, esta função é desempenhada por um adjectivo, um grupo preposicional ou uma oração subordinada adjectiva relativa restritiva. Então, que função desempenha o quantificador?
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa