DÚVIDAS

Dever e ter de em normas oficiais
Consulto frequentemente o vosso sítio e desde já vos felicito pelo excelente trabalho. Tenho um problema com a utilização do deve (opcional) ou tem de (obrigatório). Uma norma (conjunto de regras a seguir) é (ou devia ser) escrita utilizando o princípio da clareza (linguagem clara e compreensível para todas as pessoas). Sendo a frase: «A entidade X deve escolher o método A ou o método B e deve aplicar o método escolhido no quadro 1.» Neste caso, o «deve aplicar» está correcto, ou utiliza-se tem de ou mesmo o verbo na forma activa? Outro caso: «A entidade X deve garantir os items x, y e z.» Se é uma norma (regra a seguir) obrigatória, o deve na frase torna a acção opcional. Neste caso, penso que deveria ser «A entidade X têm de garantir...» ou «garante» de forma a a acção ou situação ser obrigatória. Quando uma norma é transposta a aviso na legislação portuguesa através do princípio da legalidade (onde a norma fica submetida à lei), contendo o mesmo texto (com deve), como deve ser interpretada? Este problema é claro na língua inglesa, onde shall e must são claramente opcional e obrigatório, respectivamente. Mas a tradução de normas EN para PT origina muitas situações idênticas às referidas. Como fica: deve, ou tem de? Grato pela atenção.
«Tenho dito»
Gostaria de perguntar se a expressão «tenho dito» utilizada para expressar a conclusão de uma fala ou frase é correcta. Não será mais apropriado «tenho-o dito»? Isto porque me parece um decalque da expressão castelhana «lo he dicho» e porque faz mais sentido com artigo, referindo-se ao objecto em questão, ou seja, à fala/frase que se acabou de dizer. Obrigado desde já pela resposta e por me ajudarem tanto no meu trabalho.
Sobre o verbo envidar
Gostaria de vos colocar a seguinte questão: o verbo envidar é transitivo, logo, não prescinde de complementos directo e indirecto; resta saber se é um verbo cativo de um complemento fixo, o que se traduz numa expressão idiomática, ou seja, «envidar esforços»; para concluir, é legítimo utilizar outros sintagmas, tais como, «envidar os meus cuidados», «envidar o meu desprezo», etc.? Agradecido, desde já, pelo envide dos vossos esforços na solução das nossas dúvidas.
O predicado verbo-nominal e o predicativo do sujeito
Em resposta apresentada no dia 07/04/2006, referente à pergunta «Gostaria de saber se, nas orações «o professor ministrou a aula lentamente» e «o juiz proferiu a sentença vagarosamente», os termos lentamente e vagarosamente são predicativos do sujeito», a atenciosa consultora ofereceu várias explicações, incluindo esta: «[...] Os predicados podem ser: predicado verbo-nominal – existem dois núcleos significativos: um verbo significativo e um predicativo do sujeito. («A Joana sorriu animada») [...]» Minha dúvida reside no já exaustivamente abordado tópico do predicativo do sujeito. Após ler diversas considerações sobre o tema no sítio do Ciberdúvidas e em gramáticas normativas, concluí que o predicado verbo-nominal existe só quando há um predicativo do objeto (e, para isso, é necessário haver verbos como considerar, julgar, fazer, etc., que pedem complemento). Nos casos em que há predicativo do sujeito e verbo de ligação (ex.: «João é bonito»), o predicado é nominal. Já para os casos em que há um verbo significativo, seguido de um “qualificador” do sujeito, esse “qualificador” corresponde a um aposto, e o predicado é verbal (exs.: «Maria sorriu entusiasmada.» «Maria chegou atrasada.» «Maria olhou o mar, triste.»). Minhas conclusões podem ser consideradas verdadeiras? Se houver equívoco(s), onde ele(s) está(ão)? A afirmação da consultora parece destoar de minhas conclusões, visto que, para ela, a frase «A Joana sorriu animada» contém um predicado verbo-nominal e, neste, um predicativo do sujeito («animada»). No entanto, em outras respostas, termos em posição semelhante foram tratados como aposto (ex.: «A rapariga sorriu entusiasmada»). Outra questão: pode haver predicativo do sujeito sem que haja um sujeito explícito? No Brasil, circula uma conhecida canção que começa assim: «Era uma casa muito engraçada [...].» O sujeito é «uma casa», certo? Mas eu poderia dizer apenas «Era uma casa» ou «Era janeiro» ou «Era um bom homem» e considerar que haja (ou há?) somente predicativo do sujeito? Quando penso que estou começando a entender o assunto, leio, leio e fico mais confusa. Por favor, ajudem-me. Muito obrigada!
Voz passiva e verbo haver
Tenho algumas dúvidas relativamente à análise destas duas frases no que respeita à voz passiva. 1.ª — «Todos os movimentos são cuidadosamente calculados.» Eu considero aqui que estamos na presença da voz passiva, resultante da construção verbo ser + particípio passado. Por favor, corrijam-me se estou errada. Relativamente ao verbo ser, o seu estatuto aqui é de verbo semiauxiliar? 2.ª — «Deixou de haver bons cristãos e malvados palestinianos.» O que devo considerar? Que se encontra na voz activa, dada a ausência de particípio passado? No que refere à identificação do complemento directo, é aqui possível a aplicação do critério sintáctico da pronominalização? Parece que não soa muito bem dizer «Deixou de havê-los». Muito grata pela atenção dispensada.
Sobre verbos transitivos directos e indirectos
Quando sabemos se os verbos são transitivos diretos ou indiretos? Por exemplo: «Esqueci-me do livro»; «Precisou o lugar do crime»; «A resposta do professor não satisfez o discípulo»; «Satisfazer a todos é impossível»; «Para fechar os melhores negócios, você precisa de maiores informações»; «Batatas, eu não comprei»; «O hipocondríaco morreu mas ninguém acreditou.»
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