DÚVIDAS

A diferença entre a escrita e a pronúncia

Como vivo aqui em Portugal procuro me adaptar, mas tem coisas que não consigo entender... tais como «porque escrevem certo e pronunciam errado». Ex.:

correios (pronunciam "curreios")

coração ("curação")

piscina ("pixina") e por aí afora.

Já procurei explicações, mas ninguém me deu uma que fosse convincente ou correta.

Se puder, «diga lá». Obrigada.

Resposta

Todas as línguas do mundo estão em permanente evolução. A escrita não acompanha a evolução fonética. As regras ortográficas em vigor datam de 1945. A língua portuguesa é falada por cerca de 2OO milhôes de pessoas em cinco continentes.

Basicamente, a ortografia da língua portuguesa está relacionada com a língua latina e com as pronúncias a{#c|}tuais. De modo geral, as vogais t{#ó|ô}nicas tiveram um ligeira evolução ao longo dos séculos, mas as vogais átonas, em Portugal, tornaram-se mais fechadas. A língua portuguesa na variedade europeia utiliza nove vogais orais (apresentam-se os símbolos fonéticos): três abertas — [a], [ɛ] ("é aberto"),  [ɔ] ("ó aberto"); três de abertura média — [ɐ] ("a fechado"), [e] ("e fechado"), [o] ("o fechado"); e três fechadas — [i],  [u],  [ɨ] ("e mudo", como, por exemplo em bebe, [bɛbɨ]).

As diferenças regionais encontram-se sobretudo nas sílabas átonas.

A palavra correios é pronunciada no Brasil "côrreius", e, em Portugal, onde as sílabas átonas são mais fechadas, dizemos "curreius".

No Brasil, a palavra coração tem as pronúncias "còraçãu" e "côraçãu". Em Portugal, a sílaba inicial é mais fechada e, por isso, dizemos "curaçãu".

Muitos falantes, em Portugal, lêem piscina como "pichina". Não é a melhor pronúncia, mas é uma forma possível. Curiosamente, é uma realização fonética próxima da pronúncia italiana. Como a consoante s soa como <ch> em fim de sílaba, neste caso, assimila a consoante seguinte e abafa o seu efeito. Na língua portuguesa, as chiantes dominam normalmente as sibilantes.

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