Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Fonética
Inês Neves Metelo Bióloga Lisboa, Portugal 481

Como poderei classificar uma espécie de peixe presente em todos os oceanos? "Circunglobal" ou, à semelhança de circum-estelar, "circum-global"?

Obrigada

João Almeida Estudante Portugal 244

Como já foi escrito neste sítio, na Resposta a "Taquicardia" (dada por Carlos Rocha, 13 de novembro de 2013), o consenso académico coloca taquicardia, com o acento [tónico]em di, como a pronúncia correta.

Contudo, a minha dúvida vai no sentido de que o segundo elemento desta palavra provém do étimo grego κᾰρδῐ́ᾱ (kardíā); ao passar esta palavra para o latim científico (fonte de infinitos termos médicos), colocamo-la sob a regra da penúltima, que nos diz que a penúltima sílaba, por ser breve (a sílaba grega original é um iota breve), perde o acento, que passa para a antepenúltima sílaba.

Deste modo, o termo médico em latim científico tachychardia passaria a pronunciar-se com acento na antepenúltima sílaba, como o seu termo cognato em português, taquicardia, do mesmo modo como ocorre na pronúncia espanhola de taquicardia?

(Nota: na Resposta a "A pronúncia e o acento de ambrósia" (Carlos Rocha, 18 de maio de 2021), o iota breve de ἀμβροσία (ambrosía) também faz com que, na transposição latina, o acento passe para a antepenúltima sílaba.)

Ranjodh Singh Arora Estudante Noida, UP, Índia 344

Que palavras além de dâblio têm um â (a com acento circunflexo) antes de consoantes não nasais?

José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 404

Vi um vosso comentário sobre «alguns provérbios alusivos à água», quando procurava a explicação para um sobre o mesmo tema que não constava daquela lista.

É ele o seguinte: «Na água turva é que se apanha o "bargue”».

Por mais voltas que desse não encontrei a palavra "bargue".

Antecipadamente muito obrigado pela ajuda.

José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 410

A minha questão prende-se com apelidos/patronímicos.

Conquanto seja um facto, para os genealogistas, que o apelido Andrade é de origem toponímica e não patronímica, a verdade é que me parece encontrar evidências (?) de que também possa ter origem patronímica. Pelo menos, no que toca à minha família, e apenas no concernente ao nosso costado paterno – em “busca da qual” vagueei por horas, dias, semanas, meses e anos a fio, no tempo em tinha de me deslocar para a consulta das fontes, à (actual) Torre do Tombo, ao Arquivo Distrital de Santarém, à Conservatória do Registo Civil de Ferreira do Zêzere e ao Arquivo Paroquial da minha freguesia natal.

O meu texto, que se segue, vale apenas para contextualizar a problemática. A questão, portanto, é: poderá o apelido Andrade ou d’Andrade ser o patronímico de André?

Grato pela vossa atenção.

«APELIDOS; PATRONÍMICOS O apelido é o sobrenome de família que se transmite de pais a filhos. Parece terem sido os romanos que trouxeram para cá o uso do apelido. Uso com que a invasão goda acabou: com eles as pessoas apenas tinham o seu nome próprio, nada mais. Mais tarde, sob o domínio árabe generalizou-se o uso dos patronímicos. Estes, antes de se tornarem em verdadeiros apelidos, começaram por ser sobrenomes derivados do nome do pai. Alguns acabaram mesmo por constituir nomes próprios, embora derivados de outros e exprimindo filiação.

No tempo dos nossos primeiros reis, e até D. João I, vigorava a regra de que ao filho mais velho se desse o nome do avô materno seguido do apelido patronímico. Exemplo acabado desta regra é o caso de D. Afonso Henriques: Afonso, porque neto materno de Afonso (Afonso VI, rei de Leão e Castela, como se sabe – pai de D. Teresa), Henriques, porque filho de Henrique.

Mas os patronímicos também se formavam pela mera aposição do nome do pai ao do filho: assim, v. g., «Pedro Afonso» (filho de D. Afonso Henriques) era, de seu nome, Pedro; e porque filho de Afonso, Afonso. Ou seja: Pedro (filho de) Afonso. Ou: «Martinho/Martim (filho de) Lourenço», donde Martim/Martinho Lourenço.

Alguns patronímicos evidenciam bem a sua origem: como, v. g., Henriques se vê logo ser o patronímico de Henrique; ou Rodrigues, o de Rodrigo; ou Bernardes, o de Bernardo; como Sanches o de Sancho; ou Fernandes o de Fernando; ou Álvares o de Álvaro; ou Ramires o de Ramiro; ou ainda Martins/Martinez (e muito provavelmente Martens) o de Martim/Martinho. Tal como, ainda que hoje não seja para nós tão evidente, Soares é o patronímico de Soeiro; e Dias o de Diogo; e Peres o de Pedro/Pero; e Pais o de Paio/Pelágio. Da mesma forma muitos outros apelidos de hoje denunciam (até pela sua terminação em s) a sua origem patronímica, como acontece com Gomes.

Na nossa família encontramos duas aplicações muito evidentes relativamente a esta matéria de apelidos e patronímicos, com o apelido/patronímico Andrade, o mais remoto dos quais é o do tio-tetravô (padre) Francisco Manuel d’Andrade. A explicação que encontro (e tenho ideia de já o ter confirmado algures, e por mais de uma vez) é que o d’Andrade é o mesmo que «d’André»: «filho, e/ou neto, e/ou bisneto… de André». Como é aqui o caso: Francisco Manuel (R187) era filho de Manuel André, (046-054) nosso pentavô (hexavô...). Bom, mas não era só o pai do nosso referido tio-tetravô que era André, já o foi o seu avô (nosso hexavô...) Simão André (78) e o seu bisavô (nosso heptavô...) outro Simão André (184-216), assim como o trisavô dele (nosso octavô...), outro Manuel André (368-432) na mesma linha de ascendentes.

Igualmente “perto” (!) de nós temos também na família outro caso de um Andrade («de Andrade» ou «d’Andrade») que era filho de André: é o do tio-bisavô Manuel Ferreira d’Andrade, neste caso filho de António André. Era irmão do bisavô (trisavô/tetravô) Joaquim André Ferreira (004). Tanto o Manuel como o nosso bisavô Joaquim, eram filhos do trisavô António André (008). Daí ambos André, embora tivessem o nome completo construído de forma diferente, e um deles «d’Andrade» em vez de «de André» – que, tanto quanto penso, é o seu equivalente.

A propósito de apelidos, veja-se a “construção” do apelido André na nossa família desde o nosso, por um lado, octavô, por outro, heptavô Manuel André (a mesma pessoa física, que deve ter nascido cerca de 1630) passando pelos seus filhos Simão André e João André, respectivamente nossos heptavô e hexavô. São bem nítidas duas linhas contínuas que partem daquele octavô (numa linha) e heptavô, na outra, Manuel André, que se bifurcam naqueles seus dois filhos e convergem, de novo, no seu hexaneto Joaquim André Ferreira (nosso avô paterno), que no outro ramal é seu pentaneto. E então repare-se: dum lado temos uma linha agnatícia (varonil) até ao patamar da tetravó Maria Ribeira, em que se converte em cognática (feminina); do outro: sempre a linha varonil. Mas, todos eles, parentes directos, ou cognatos (consanguíneos, não afins). Resulta assim claro que o apelido que devíamos ter era o de André, o mais constante desde as gerações conhecidas de antepassados. Ou então André Ferreira, conjugando o mais antigo com o das últimas três gerações que antecedem a nossa.»

 

N. E. – O consulente adota a ortografia de 1945.

J. Nogueira Professor Almada, Portugal 401

Sabem se haverá algum nome para nos referirmos ao uso da vogal “a”, na oralidade, em “que sa lixe” («que se lixe»)? 

José Saraiva Leão Estudante Foz do Iguaçu, Brasil 515

Em Portugal, é geral o evitar-se o hiato «a água» com "a iágua", ou trata-se dum uso dialetal?

Muitíssimo reconhecido ao vosso trabalho!

Pedro Oliveira Analista bancário Quinta do Anjo, Palmela, Portugal 442

Agradeço antes de mais o tempo dispendido para avaliar e responder às minhas questões.

Sei que a aférese é uma figura de estilo/linguagem que consiste na queda/retirada de um fonema no início de um vocábulo (ex. ainda – inda) e que ao mesmo tempo existe um outro recurso estilistico, a prótese que consiste no contrário, ou seja, no acrescento de um fonema no incío de uma palavra (ex. levantar – alevantar).

A minha primeira questão é a seguinte: ao depararmo-nos com determinado vocábulo, como sabemos se se trata de uma prótese ou de uma aférese?

Por ex.: arrebentou e rebentou.

Pelo que entendo, antes de escolhermos a figura de estilo apropriada, temos de decidir qual a palavra de origem, é isso? Mas isso nem sempre me parece evidente... Por exemplo há três ou quatro gerações (e ainda em várias zonas do norte de Portugal, por exemplo) ainda se diz arrebentou ou inda. No primeiro caso, trata-se de uma prótese porque partimos de rebentou, e no segundo, de aférese, porque temos em conta que a palavra "correta" é ainda – ou esse raciocínio é demasiado frágil?

Além disso, torna-se difícil de decidir quem fala/escreve bem ou menos bem. Tenho a ideia de que a lingua, sendo um produto social, mesmo com esquematizações e normas lexicais/sintáticas/etc. constitui um fenómeno humano muito dinâmico e permeável ao meio envolvente, o que dificulta essa mesma sistematização do bem falar/escrever.

No que nos podemos basear para essa questão das figuras de estilo? Na maioria dos falantes? Do país/zona de origem de quem proferiu/escreveu determinado vocábulo/frase?

Muito obrigado pela ajuda.

Ausse Saide Docente Cairo, Egito 487

O que significa «consoantes geminadas» ou «duplas»? Será que pode dar-se como exemplo o nome arábe Muhammad, porque na língua árabe temos algo que se chama xaddah, que representa duas consoantes através de um símbolo?

É que não sei se no português digo "geminado" ou se temos uma outra designação.

Obrigado.

Alexandre Vidal Analista Curitiba, Brasil 583

É muito comum encontrarmos palavras estranhas nas músicas, especialmente influenciadas pelo regionalismo, mas também por explicações simples e muitas vezes cômicas.

Gostaria de conhecer a explicação para a palavra "hotomote" na música A tua sina de Clementina de Jesus (1901-1987):

«Lá no morro de São Carlos
"existe" dois hotomotes
de perto conhece os fracos
de longe conhece os fortes.»

Obrigado.