Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Fenómenos fonéticos
José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 414

Vi um vosso comentário sobre «alguns provérbios alusivos à água», quando procurava a explicação para um sobre o mesmo tema que não constava daquela lista.

É ele o seguinte: «Na água turva é que se apanha o "bargue”».

Por mais voltas que desse não encontrei a palavra "bargue".

Antecipadamente muito obrigado pela ajuda.

José Saraiva Leão Estudante Foz do Iguaçu, Brasil 526

Em Portugal, é geral o evitar-se o hiato «a água» com "a iágua", ou trata-se dum uso dialetal?

Muitíssimo reconhecido ao vosso trabalho!

Pedro Oliveira Analista bancário Quinta do Anjo, Palmela, Portugal 455

Agradeço antes de mais o tempo dispendido para avaliar e responder às minhas questões.

Sei que a aférese é uma figura de estilo/linguagem que consiste na queda/retirada de um fonema no início de um vocábulo (ex. ainda – inda) e que ao mesmo tempo existe um outro recurso estilistico, a prótese que consiste no contrário, ou seja, no acrescento de um fonema no incío de uma palavra (ex. levantar – alevantar).

A minha primeira questão é a seguinte: ao depararmo-nos com determinado vocábulo, como sabemos se se trata de uma prótese ou de uma aférese?

Por ex.: arrebentou e rebentou.

Pelo que entendo, antes de escolhermos a figura de estilo apropriada, temos de decidir qual a palavra de origem, é isso? Mas isso nem sempre me parece evidente... Por exemplo há três ou quatro gerações (e ainda em várias zonas do norte de Portugal, por exemplo) ainda se diz arrebentou ou inda. No primeiro caso, trata-se de uma prótese porque partimos de rebentou, e no segundo, de aférese, porque temos em conta que a palavra "correta" é ainda – ou esse raciocínio é demasiado frágil?

Além disso, torna-se difícil de decidir quem fala/escreve bem ou menos bem. Tenho a ideia de que a lingua, sendo um produto social, mesmo com esquematizações e normas lexicais/sintáticas/etc. constitui um fenómeno humano muito dinâmico e permeável ao meio envolvente, o que dificulta essa mesma sistematização do bem falar/escrever.

No que nos podemos basear para essa questão das figuras de estilo? Na maioria dos falantes? Do país/zona de origem de quem proferiu/escreveu determinado vocábulo/frase?

Muito obrigado pela ajuda.

Ausse Saide Docente Cairo, Egito 498

O que significa «consoantes geminadas» ou «duplas»? Será que pode dar-se como exemplo o nome arábe Muhammad, porque na língua árabe temos algo que se chama xaddah, que representa duas consoantes através de um símbolo?

É que não sei se no português digo "geminado" ou se temos uma outra designação.

Obrigado.

Alexandre Vidal Analista Curitiba, Brasil 591

É muito comum encontrarmos palavras estranhas nas músicas, especialmente influenciadas pelo regionalismo, mas também por explicações simples e muitas vezes cômicas.

Gostaria de conhecer a explicação para a palavra "hotomote" na música A tua sina de Clementina de Jesus (1901-1987):

«Lá no morro de São Carlos
"existe" dois hotomotes
de perto conhece os fracos
de longe conhece os fortes.»

Obrigado.

José Alves Professor Brasil 444

Gostaria de saber como é que a pronúncia do "e" átono, que era pronunciado como "i", passou a ser pronunciado como /ɨ/.

Também gostaria de saber se esse é um fenómeno que ocorre com todos os is átonos, e não somente os que derivam dum "e" átono.

Em galego-português, ou até mesmo no período pré-clássico, o "e" átono era registrado, na escrita, como um "i", devido a harmonização vocálica, processo que ainda acontece no Brasil, como é possível observar em palavras como "pepino" antes também escrita como "pipino", e até mesmo quando eram nasais, como em "mentir" (mintir), "mentira" (mintira), "ensinar" (insinar), que aparecem escritas assim até em Os Lusíadas.

Sempre me pergunto como é que uma mudança tão grande como essa foi "desfeita", e o "e" que tinha passado para um "i" é agora um "ɨ", e no caso das nasais, voltou a ser pronunciado como "e".

Vladimir Galakhtin Professor de Russo Língua Estrangeira Barcelona, Espanha 552

Gostava de saber se existe algum estudo acerca da pronúncia da sequência "ti" (contigo, sítio, tirar) no Português Europeu (PE).

Tendo o russo como língua materna (em que o referido fenómeno da palatalização de quase todas as consoantes é muito frequente e fonologicamente obrigatório), percebo estes sons como ou bem palatalizados – [kõⁿ.'tʲi.gu] –, palatais – [kõⁿ.'ci.gu] – ou até aspirados – [kõⁿ.'tʰi.gu].

A diferença é ainda mais notória se comparados com as respectivas realizações fonéticas do cognato espanhol contigo em que o referido efeito acústico nunca (?) ocorre.

Estaria muito agradecido se me pudessem indicar se este fenómeno fonético existe em PE e, se possível, alguma refêrencia bibliográfica que trate do mesmo.

Obrigado pela atenção!

Joana Branco Professora Lisboa, Portugal 532

Há a possibilidade de, na evolução de totu- para todo, aceitar a dissimilação como hipótese de processo fonológico? Ou apenas a sonorização é válida?

Obrigada.

Hakeel Gabriel Professor Luanda, Angola 645

No Dicionário Infopédia, a transcrição fonética de como – seja como advérbio seja como forma do verbo comer – é ['kumu].

De acordo com a norma-padrão, está correta? Qual é a fundamentação teórica, uma vez que não se deve fechar a vogal da sílaba tónica da palavra?

Lucas Tadeus Estudante Mauá, Brasil 393

Estava a assistir a um vídeo na rede sobre o dialeto de Açores e vi que eles, assim como o Brasil, cortam o erre do infinitivo, ou seja, eles falam "amá(r)", "comê(r)", "ri(r)".

O que me fez perguntar o quanto parecido de Portugal o Brasil é.

Lembrei de outras questões, como por exemplo alguns brasileiros usarem o pronome pessoal de caso reto ele como se fosse de caso oblíquo.

Daí a pergunta: qual dialeto de Portugal se assemelha mais ao português do Brasil?