DÚVIDAS

A expressão «ser da Lourinhã»

Uma colega perguntou-me se conhecia a expressão «Pensas que sou da Lourinhã?», no sentido de «Pensas que sou estúpido?» ou «Pensas que sou parvo?». Desconhecia.

A mesma questão foi colocada por ela a vários outros colegas e a maioria conhecia a expressão.

Numa pesquisa breve na Internet encontrei uma explicação a que não sei se atribua crédito ou não e que radica a origem da mesma no desaparecimento, nos anos 30 do século passado, de um cão de grande porte de uma casa senhorial na Lourinhã, a que seguiram diversas mortes de ovelhas, coelhos e galinhas, falando-se mesmo em vitelos e até num burro, atribuídas ao cão. Havia quem lhe chamasse «a loba» ou «raposa». Deu-se caça ao animal e quando o mesmo foi abatido, constatou-se tratar-se «apenas de uma cadela». Ou seja, ter-se-á caído num logro. Alegadamente, a expressão terá advindo daí.

Podem, por favor, na medida do possível, confirmar a existência da expressão e a sua origem?

Obrigado.

Resposta

A única informação aqui possível de obter é exatamente a mesma do consulente, ou seja, não se encontrou explicação cabal. Fica o registo.

Refira-se, mesmo assim, que é possível que haja ditos muitos parecidos com este agora em questão, que incluem topónimos com intuitos umas vezes jocosos outras deliberadamente ofensivos, a refletirem rivalidades regionais. É de lembrar que as relações entre os habitantes de localidades próximas, numa mesma região, podem ser do menos cordial que se possa imaginar. Muitas vezes a estratégia usada é a do insulto explícito ou velado, de tal maneira que, em português, como noutras línguas, se encontram ditos e provérbios muito pouco amigáveis – na verdade preconceituosos e difamatórios – sobre os habitantes de bairros, aldeias, vilas e cidades vizinhas.

Seguem-se dois exemplos, um provocador e outro particularmente acintoso:

«Mais vale uma rua do Porto que Gaia toda.» (na verdade, diz-se, usando a antiga partícula comparativa ca, intenção brejeira «ca Gaia toda»)

«Portimão, porta sim, porta não, para baixo é tudo de seguida.» (insinuando que grassa a prostituição feminina na cidade em causa – o que nunca terá sido o caso).

Acrescente-se também a conhecida pergunta «é de Braga?», que funciona como repreensão dirigida a quem deixa uma porta aberta e que se diz remontar à abertura de uma porta na muralha da cidade minhota, hoje conhecida como Arco da Porta Nova.

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