A forma mais adequada do adjetivo em questão – entendido como «palavra cuja significação referencial só pode ser definida em função da situação, do contexto, do locutor e do recetor do ato de fala» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa) – será dítico ou díctico1. Dêitico (ou dêíctico) é também aceitável, enquanto deítico (ou deíctico) menos favor histórico (filológico) tem, embora seja a forma mais usada nos estudos linguísticos, pelo menos em Portugal. O substantivo correspondente tem as variantes díxis (considerada a mais correta), dêixis, deíxis e deixis (esta a menos aceitável).
Começando por dítico, encontra-se o seu registo no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de F. Rebelo Gonçalves, definido como sinónimo de demonstrativo e acompanhado da seguinte observação: «Inexacta a forma deíctico (decalque do francês déictique).» Esta apreciação pressupõe que o acento da grafia francesa não representa um acento de intensidade, mas é antes um diacrítico de timbre vocálico (é uma vogal igual ou semelhante ao e de cedo); a sequência éi pronuncia-se, portanto, "ê-i", articulando as duas vogais separadamente (hiato). O termo francês, que teve voga na investigação linguística portuguesa a partir dos anos 60 (com os estudos de J. Herculano de Carvalho), terá sido, portanto, adaptado ao português, conservando o hiato francês. Pode conjeturar-se também que, dado o sufixo -ico ser átono (cf. som – sónico), o aportuguesamento foi configurado como palavra esdrúxula (ou proparoxítona), ou seja, como palavra acentuada na antepúltima sílaba – deíctico; formando a sequência "ei" um hiato, a vogal i recebeu o acento tónico e, consequentemente, o acento gráfico, porque é ela que se encontra na antepenúltima sílaba.
Acrescente-se que, no Dicionário Houaiss (2001) não regista deítico, mas apresenta as formas díctico e o substantivo díxis como as mais corretas, enquanto dêitico (ou dêctico) e dêixis se classificam como vocábulos não canónicos:
«gr. deîksis, deíkse, ós "citação, demonstração, prova, exposição", cognato do verbo grego deíknumi "mostrar"; há pouco tempo introduzido em inglês, francês, espanhol deixis, português dêixis, com o correlativo adjetivo grego deiktikós, ê, ón, tornado inglês deiktic/deictic, francês déictique, espanhol deíctico; se representados em latim (através do qual se adaptam os grecismos nas línguas de cultura), esses vocábulos. seriam *dixis e *dictĭcus, a, um (correspondentes quanto ao significado. ao latim demonstratĭo, ōnis e demonstratīvus, a, um); as formas dêixis e dêictico vão de encontro à estrutura fonológica do português, que só tem dei- tônico (sempre fechado, salvo no B déia) em flexões rizotônicas dos verbos portugueses deixar e deitar; fora disso, antetônico, dei- = deï- (isto é, dei-i-), ou deí- (isto é, dei-i- com hiato); a forma preconizada díxis (cs) evita a existente dixe (ch) e não corre o risco de ambigüidade ante o supino dictum = dito, do verbo dizer, como acontece com díctico [...]»
Observe-se, no entanto, que dítico e díxis pouco ou nenhum sucesso têm tido em Portugal. É certo que díctico tem entrada no dicionário da Academia das Ciências das Ciências, mas aqui também se consigna deíctico, forma muito mais frequente, que ocorre, por exemplo, o Dicionário Terminológico, recurso destinado ao ensino não universitário em Portugal, quando define o termo deixis.
Mas a grafia de deixis revela igualmente alguma inconsistência. Com efeito, seria de esperar deíxis, e não deixis, se a finalidade fosse representar o hiato "e-í", atendendo a que as vogais também não formam ditongo no adjetivo derivado deíctico. Assinale-se, porém, a ocorrência esporádica de deíxis – é o caso da forma adotada pelo artigo "Deíxis" do E-Dicionário de Termos Literários. Por outro lado, tendo as formas gregas um ditongo e constituindo "ei" um ditongo frequente em português, note-se que nada obstaria a que as formas portuguesas o mantivessem. É esta a opção da Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013), que emprega a grafias dêixis, a que corresponde com coerência dêitico.
Em suma, talvez conviesse repensar o uso das formas deítico e deixis, e incentivar a utilização de outras mais em linha com os critérios gerais de adaptação de palavras e elementos de origem grega ao português.
1 A aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa levou a que, em Portugal, dítico, dêitico e deítico sejam formas também corretas, a par de díctico, dêictico e deíctico.
2 Refira-se, porém, que em castelhano se encontra uma situação semelhante, dado que o dicionário da Real Academia Espanhola regista duas formas para o substantivo: por um lado deixis e deíxis, formas que correspondem às portuguesa dêixis e deíxis, respetivamente.