Não é uma onomatopeia, porque lhe falta a intenção de imitar um som do mundo físico ou animal não humano. É uma interjeição, porque exprime um estado emocional, geralmente de dor, conforme explica o Dicionário Houaiss:
«[existem interjeições] que apresentam sons articulados, com fonemas que fazem parte do sistema da língua (ai, eba, ei, epa, oba, opa, ui, xi etc.) e cujo caráter vocabular é mais definido, tendo uso bastante generalizado e convencionado, embora algumas guardem espontaneidade e expressividade bastante marcadas, como ai e ui (gritos de dor, excitação); este tipo de interj. incorpora-se, de certo modo, ao repertório comunicativo da língua, passando a fazer parte do vocabulário desta.»
Compreende-se, contudo, que a fronteira entre onomatopeia e certas interjeições não seja suficientemente clara, como aponta o Dicionário Houaiss:
«[há interjeições] que praticamente não apresentam caráter vocabular, já por serem constituídas de sons inarticulados, ou que não fazem parte dos fonemas da língua, já por serem formadas por seqüências de fonemas que não ocorrem em outras palavras; tais interjeições são, de certo modo, o limite da língua, pois, embora sejam emissões acústicas realizadas com o aparelho fonador e tenham função expressiva e comunicativa, estão fora do sistema fonológico, assemelhando-se mais, a este respeito, a elementos não lingüísticos ou supralingüísticos como os gestos, a entonação etc. (algumas dessas interjeições chegam a ter uso relativamente convencional; além disso, podem ou não receber representação gráfica mais ou menos padronizada): ó (vocativo); oh (espanto etc.); x/ch (som do ch, para pedir silêncio); hm ou hm-hm ou ham-ham ou hum-hum (representação do ruído que se faz ao pigarrear para chamar a atenção sobre si, quando não se é notado, ou para sugerir ironicamente que algo que foi dito não é verdadeiro); ha (desprezo, riso etc.); hã (interrogação, surpresa); deve-se notar que as onomatopéias, embora sejam um recurso expressivo associado à linguagem, diferenciam-se deste tipo de interj., pois não traduzem um estado emocional; pode-se legitimamente considerar a representação gráfica ou a imitação das interjeições deste tipo como onomatopaicas (pois imitam sons, e não palavras, e podem estar inseridas em um encadeamento frasal: morreu sem dizer ah/sem fazer um ah sequer), mas sua realização espontânea na fala, ainda que onomatopaica ou imitativa, é tipicamente interjetiva [...]; dentre as interjeições deste tipo, [...] [incluem-se] aquelas que, além de ter uso relativamente convencional, recebem representação gráfica padronizada e são compatíveis com as regularidades da língua (p. ex., psiu [onomatopéia do som /ps/, us. para chamar alguém ou pedir silêncio]; já, p. ex., pf [expressão de desprezo] ou ts ou tsc [ruído que se faz com a língua no céu da boca, para exprimir contrariedade ou reprovação] não se registraram) [...].»