Trata-se da conservação de parte da irregularidade que se observava em latim, no presente do indicativo do verbo posse, «poder», originalmente um verbo composto: possum, possumus, possunt, mas potes, potest, potestis. O português, em parte como o italiano, manteve a irregularidade na primeira pessoa do singular. Pelo contrário, o galego e o castelhano regularizaram todas as formas de poder, incluindo a primeira pessoa do singular: podo (galego), puedo (castelhano).
Assinale-se que, na Idade Média, no período galego-português, a forma de primeira pessoa do singular do presente do indicativo era posso, de acordo com Manuel Ferreiro, Gramática Histórica Galega (Santiago de Compostela, Edicións Laiovento, 1996, pág. 331):1
«Fronte á forma medieval posso (PŎSSŬM) de P1 de Presente de Indicativo, aparece no galego común podo [ˈpɔdo] (con vocal tónica aberta como quero) ou [pódo], como os verbos semirregulares con alternancia vocálica na segunda conxugación [...], regularización moderna producida a partir do resto do paradigma deste tempo.»
1 Na citação: «P1» = «primeira pessoa»; em [ˈpɔdo] o sinal de acento tónico está no começo de sílaba, por tecnicamente não ser possível colocá-lo sobre a vogal como no original.