DÚVIDAS

A regência do verbo oferecer

Tenho a seguinte frase: «Os modelos intermediários criaram algumas ilhas de prosperidade (como os países escandinavos), possíveis por circunstâncias muito especifícas de sua história e cultura, mas não conseguiram oferecer uma alternativa séria a países grandes e pobres como o Brasil.»

Seria correto eu escrever «... mas não conseguiram oferecer uma alternativa séria aos países grandes...», já que quem oferece, oferece alguma coisa a alguém?

Resposta

Ambas as expressões — «oferecer... aos países grandes» e «oferecer... a países grandes» — estão correctas. O verbo oferecer é empregado com um complemento directo (no exemplo, «uma alternativa séria») e um complemento indirecto («a/aos países grandes»).  O complemento indirecto é introduzido pela preposição a, que pode ser seguida ou não pelo artigo definido (o(s)/a(s)), dependendo da intenção da pessoa que fala: «aos países grandes» é uma referência mais específica, que realça o facto de se tratar desses países e não de outros quaisquer. «A países grandes», com a preposição a mas sem artigo, é uma opção igualmente válida, porventura mais vaga, podendo interpretar-se como «certos países» ou «países que existam».

Acresce que que, embora haja preposições que se contraem com os artigos definidos, não deve haver contracção quando o artigo faz parte de um constituinte de uma frase infinitiva introduzida por uma preposição («não concordaram com a sua opinião por a mesma ser disparatada»), assim como também não deve havê-la quando, em vez de um artigo, temos um pronome pessoal que lhe é semelhante («obrigado por o mencionares»). Quando o artigo faz parte de um título, existem casos de flutuação: «em Os Lusíadas», «n´ Os Lusíadas».

Relativamente aos demais determinantes e pronomes que podem contrair com preposições, seguem-se regras semelhantes às que regulam a contracção das preposições com artigos: não devem contrair quando a preposição rege não o sintagma nominal a que os pronomes ou determinantes pertencem mas introduzem a frase em que os determinantes ou pronomes se encontram, frase que será sempre infinitiva.

Nos outros contextos, depende um pouco de cada determinante ou pronome ou advérbio. Por exemplo, os indefinidos um/uns, uma/umas têm um comportamento misto, pois apesar de contraírem com a preposição em (num/nuns, numa/numas) generalizadamente e também poderem contrair com de, são mais frequentes as sequências «de um, de uma, etc.». Há outros casos parecidos: algum, alguma podem contrair com em ou não («em algum lado», «nalgum lado») mas é mais raro encontrar a sua contracção com de. Há pois casos em que a contracção ou não contracção é completamente opcional mas uma delas é mais frequente: por exemplo, a de de com o advérbio onde (sendo a não contracção muito mais frequente).

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