Tratando-se do recurso a uma palavra/forma verbal — partiste — que amenize uma realidade cruel, de forma a atenuar a violência de um termo que reproduza a disforia de tal realidade, não há dúvida alguma de que se trata de um eufemismo, aí usado pelo sujeito poético para evitar a rudeza do campo lexical de «morte».
Apesar de se tratar de um texto do séc. XVI, do Renascimento, em que a literatura estava associada à ideia de beleza, de perfeição e de equilíbrio e, por isso, a morte surge de forma eufemística, esta prática tem-se mantido até aos nossos dias. A morte tem sido, assim, o caso-padrão de recurso ao eufemismo, como se pode verificar através do que nos diz Carlos Ceia, em E-Dicionário de Termos Literários: «Figura de retórica que procede à substituição de uma expressão rude ou desagradável por uma outra que amenize o discurso, embora sem alterar o sentido, por exemplo, "ir para outro mundo" ou “Tirar Inês ao mundo determina” (Camões, Os Lusíadas, III, 123) em vez de "morrer" ou "pessoa de poucos recursos financeiros" por "pobre". O termo é de origem grega (euphemismos, “bem dizer”) e desde sempre foi utilizado para designar as formas de dissimulação de sentimentos desagradáveis, de pensamentos cruéis ou de palavras tabu, que se evitam pelo recurso a uma linguagem mais amaviosa, sem se perder o sentido original de vista.»