A etimologia de alma
Na passagem do latim anima («alma») para “anma” e, depois, para alma, além da síncope, que outro processo ocorreu (de “anma” para alma)?
Muito obrigada.
Na passagem do latim anima («alma») para “anma” e, depois, para alma, além da síncope, que outro processo ocorreu (de “anma” para alma)?
Muito obrigada.
Trata-se de uma dissimilação, ou seja, n passa a l, perdendo a nasalidade e tornando-se um som lateral, de modo a distinguir-se melhor de m, visto que n e m são nasais.
Note-se, porém, que não é certo que do latim anima surja "anma", por síncope de i, antes de passar a alma. Com efeito, parece plausível que entre anima e alma tenha surgido a forma intermédia "álima", forma do latim vulgar da antiga Hispânia, comum, pelo menos, às regiões centrais e ocidentais da península. Aceitando a referida forma intermédia, aceita-se, portanto, que se verificou uma dissimilação antes da supressão (síncope) de i, daqui resultando alma. Que a forma "álima" deva ser considerada como etapa intermédia encontra apoio no facto de em castelhano, na descrição histórica dialetológica se registar álima como variante de ánima, forma culta paralela a alma.2
Por outro lado, em português, encontra-se a forma alimária, do latim animalia, a qual exibe o resultado da passagem de -n- a -l- com conservação do -i- medial, como, aliás, se assianala no Dicionário Houaiss: «lat. animalĭa, ium "animais, conjunto de animais", através do antigo alimalia, por dissimilação das nasais -n-...-m- em -l-...-m-, e daí alimária, por dissimilação do primeiro -l- ...-l- em -l-...r- [...].»
1 Apesar de não ser impossível a passagem de n, que é consoante dental nasal à correspondente consoante dental oral d, acontece que as sílabas terminadas em -d (supondo "adma", forma não atestada) parecem raras ou nulas na passagem do latim ao português.
2 Cf. Joan Coromines e José Antonio Pascual, Diccionario Crítico Etimológico Castellhano e Hispánico (versão em CD-Rom, 2012), s. v. alma