Carnavalar e carnavalejar serão variantes coloquiais de um verbo de morfologia instável, que encontra alguns registos dicionarísticos sob a forma carnavalear.
O dicionário de Caldas Aulete (versão eletrónica) consigna a entrada carnavalear como verbo intransitivo com a indicação de ter pouco uso e significar «brincar no Carnaval». O Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Círculo de Leitores, 1991), de José Pedro Machado, também acolhe carnavalear e atribui-lhe o mesmo significado a par de outro genérico: «foliar na época do carnaval»; «divertir-se ruidosamente; foliar».
Trata-se de um verbo derivado de Carnaval, e as variantes em questão – carnavalar e carnavalejar –, que estão bem formadas, não parecem ter tradição de uso continuado e consistente no passado, a julgar pela sua ausência, por exemplo, no Corpus do Português, de Mark Davies. Contudo, nesta mesma fonte, identifica-se uma ocorrência de carnavalear, numa obra do escritor brasileiro Aluísio Azevedo (1857-1913):
(1) «Às duas da madrugada, a Cantagalense deixou-se ficar no hotel, e os outros foram carnavalear um pouco aos " Tenentes do Diabo "» (Memórias de um Condenado, 1882, reeditado em 1902, como A Condessa Vésper)
Refira-se que o espanhol dispõe também de um verbo homógrafo, carnavalear, definido pelo dicionário da Real Academia da Língua Espanhola na aceção de «divertir-se, fazer uma farra», num uso que se dá como característico da Costa Rica e das Honduras. Não é possível aqui apurar uma eventual origem castelhana do verbo carnavalear.
Observe-se, por último, que carnavalizar é outro derivado do nome Carnaval, muito embora encerre diferentes significados, entre os quais se destacam (Dicionário Houaiss): «dar aspecto ou característica de carnaval a, ou tomar esse aspecto ou característica»; «tornar (-se) agitado, alegre, informal»; «submeter(-se) à influência do carnaval; dotar de ou adquirir elementos carnavalescos»; «fazer apresentar ou passar a apresentar características de carnavalização [isto é, «mistura de elementos diversos em que as regras ou padrões (sociais, morais, ideológicos) comumente seguidos são subvertidos ou postos de lado, em favor de estímulos, formas e conteúdos mais ligados aos instintos e aos sentidos, à expansão do riso e da sensualidade»]».