DÚVIDAS

A dúvida em etimologia

Tenho particular interesse como consulente do léxico do português brasileiro em saber as origens das palavras.

Na edição eletrônica do Dicionário Houaiss (2025), observo diversas expressões empregadas para caracterizar a etimologia incerta de determinados vocábulos, tais como:

a) orig. contrv. (origem controversa) (ex.: balaio);

b) orig. desc. (origem desconhecida) (ex.: chasqueiro);

c) orig. duv. (origem duvidosa) (ex.: catano);

d) orig. obsc. (origem obscura) (ex.: léria);

e) orig. inc. (origem incerta) (ex.: chapa).

Diante desses critérios lexicográficos estabelecidos pelo Dicionário de Houaiss, em que medida eles se mostram irrefutáveis para a classificação de palavras cuja etimologia permanece imprecisa ou indefinida? Quais são os principais desafios e abordagens metodológicas para atribuir essas categorias, considerando a evolução das línguas e as fontes históricas disponíveis?

Resposta

Tanto foi aqui possível apurar, no Dicionário Houaiss (1.ª edição, de 2001) não se explica exatamente se entre as classificações em questão há diferenças teóricas e metodológicas precisas. O que se lê nos textos introdutórios da nomenclatura do referido dicionário é o seguinte:  

«44.12 Em numerosos verbetes, preenche-se o campo da etimologia com uma das abreviaturas "orig.obsc." (origem obscura), "orig.duv." (origem duvidosa), "orig.contrv." (origem controversa) ou "orig.desc." (origem desconhecida), consoante o caso [...].»  

Mesmo assim, parece possível interpretar e dispor tais categorias do seguinte modo:  

a) «origem obscura» (ex. cotovelo) e «origem desconhecida»: étimo não identificado. É frequente empregar «origem obscura», quando a palavra está documentada desde a Idade Média, transmitida por via latina, geralmente popular, mas com origem provável num étimo não latino ainda por identificar; é o que acontece, p. ex., com muitos casos da toponímia, como Lisboa ou Mondego. A categoria «origem desconhecida» pode ser associada a palavras tanto mais antigas como mais recentes, mas não é certo que «origem obscura» também não possa figurar associada a casos deste tipo. 

b) «origem duvidosa» (ex. alpendre), «origem controversa» (ex. carvalho): são categorias que remetem sobretudo para a discussão entre etimólogos, reservando-se a segunda expressão quando existem visões fortemente divergentes quanto a propostas etimológicas. 

No que diz respeito ao conhecimento etimológico, tudo depende da quantidade e da qualidade dos documentos que atestem o uso da forma a avaliar. Sempre que escasseiam registos escritos da forma em questão, mais contingente se torna a identificação do étimo.

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