DÚVIDAS

Ecce homo

Temos na minha terra, Padornelo, Paredes de Coura, a Capela do Senhor Ecce Homo, do século XVIII. Agora, há meia dúzia de anos, foi ali colocada uma placa com os dizeres «Ecce-Homo» (com hífen), que penso estar errada, na medida em que a forma registada nos dicionários, enciclopédias (e até na antiga placa toponímica) é Ecce Homo. Penso até que esta locução latina não pode levar hífen pelo facto de os antigos romanos não fazerem uso de hífen. Assim, pergunto: qual a grafia correcta, "ecce homo", ou "ecce-homo"?

Resposta

Não há nada que justifique esta alteração ortográfica na placa toponímica da capela de Padornelo. A grafia correcta é Ecce homo (como está na Vulgata) ou Ecce Homo (pelo respeito que infunde a figura em questão), mas sempre sem hífen.
 
Julgo que este erro pode ter que ver com o facto de eis, vocábulo lusitano que corresponde a ecce, se grafar com hífen, quando antecede os chamados pronomes átonos: «eis-nos», «ei-los», «ei-la», «eis-me». Seja como for, em latim é sempre sem hífen, mesmo quando o respectivo advérbio antecede essas formas pronominais: ecce me.
 
Refira-se por último, para os menos avisados, que ecce homo (que se pode traduzir literalmente por «eis o homem» e livremente por «aqui está ele») são as palavras com que Pôncio Pilatos (São João, 19, 5, na tradução latina da Vulgata) mostrou aos judeus Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Empregam-se, por vezes de forma jocosa, para anunciar a chegada de alguém, sobretudo quando se trata de personagem (pretensamente) importante.
 
Sugiro que o nosso prezado leitor escreva uma carta de protesto a quem de direito em Padornelo, para que seja reposta a verdade gramatical...

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