DÚVIDAS

Elipse de verbo e preposição: «gosta dos mesmos pintores que Caio»

Na frase «João admira os mesmos pintores que Caio», entende-se que houve a elipse de «admira», isto é, «[…] que Caio (admira)».

Mas estaria igualmente correta uma frase como «João gosta dos mesmos pintores que Caio», considerando-se que o verbo «gostar» pede objeto indireto?

Se considerássemos somente a elipse do verbo, teríamos esta frase agramatical:

*«João gosta dos mesmos pintores que Caio (gosta)».

Ou seja, há que pressupor também a elipse da preposição de:

«João gosta dos mesmo pintores (de) que Caio (gosta)».

É pressuposto aceitável? Está correta a frase «João gosta dos mesmos pintores que Caio»? Se não, que torneios devemos dar à frase para corrigi-la?

Agradeço desde já quaisquer esclarecimentos.

Resposta

Comecemos por fazer uma precisão: na frase (1), o constituinte «de pintores» tem a função de complemento oblíquo / complemento relativo. Não é complemento indireto porque não se pode substituir pelo pronome lhe.

(1) «Caio gosta de pintores.»

Uma frase como (2) é composta por duas orações: uma subordinante e outra subordinada relativa, introduzida pelo pronome que, o qual tem como antecedente o constituinte pintores:

(2) «João gosta dos mesmos pintores que Caio.»

A segunda oração caracteriza-se pela elipse do verbo gostar, pelo que a frase na sua forma completa seria a que se apresenta em (3):

(3) «João gosta dos mesmos pintores de que Caio gosta.»

No cotejo entre as frases (2) e (3), verifica-se que é a elisão do verbo gostar na oração subordinada que leva à elisão da preposição de, regida pelo verbo, pelo que a frase apresentada em (2) está correta.

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