Encontrei no mais recente dicionário da Porto Editora as grafias “mini-saia” e “minissaia”. É mesmo assim? A que regra posso recorrer para não ter dúvidas com este prefixo “mini-”? Fiquei a saber, pelas vossas respostas, que miniteste não leva hífen...
Antecipadamente agradecida pela vossa atenção.
O Acordo Ortográfico de 1945, em vigor com as alterações que sofreu em 1973, preconiza, na base XXVIII, a existência do hífen nas palavras compostas em que seja perceptível a noção de composto, ou seja, nas quais o falante identifica cada uma das palavras que entram na composição e marca essa identificação na forma como as pronuncia. Refere ainda que, quando se perde essa identidade, a palavra passa a grafar-se sem hífen. Um dos exemplos apresentados é a palavra girassol.
Sendo discutível se o falante já perdeu a noção de composto, ou seja, se já não é perceptível que girassol é uma palavra composta por gira + sol, o que é certo é que esta grafia é, já, consensual e mesmo quem, como eu, aprendeu a escrever “gira-sol”, utiliza a (nova?) grafia sem problemas.
A nova grafia poderá explicar-se pelo facto de, em termos conceptuais, o falante associar a cada conceito uma unidade gráfica, ou palavra, sendo o conceito de palavra mais frequente o que a representa como um bloco, ou seja, sem hífen.
Seguindo este raciocínio, poderemos justificar a grafia minissaia, como sendo o resultado desta característica da língua: unificar numa palavra coesa um conceito. De facto, inicialmente a palavra escreveu-se mini-saia (palavra composta a partir do elemento de formação mini-). É essa, aliás, a única forma que uma pesquisa no ‘corpus’ CETEMpúblico permite identificar. É essa também a mais frequ[ü]ente numa pesquisa Google (minissaia surge em 20 800 páginas, e mini-saia, em 172 000). Ainda se escreve, pois um dicionário recente como o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, consagra as duas formas. Mas parece que essa grafia está a mudar!
Folheando o dicionário, encontrei outros casos em que há duas grafias em compostos com mini-: minimercado, mini-mercado; minissérie, mini-série…
Mas encontrei também situações em que há, registada, uma única proposta:
mini-autocarro. Posso apenas dizer que a tendência parece apontar para a supressão do hífen em compostos com mini-.
N.E. [29/10/2016] – Escreve-se minissaia, minimercado, minissérie e miniautocarro (sem hífen), conforme as novas regras estabelecidas pelo Acordo Ortográfico de 1990. Os respetivos critérios encontram-se fixados nas Bases XV, XVI e XVII. Cf., ainda: Guia para a Nova Ortografia + Acordo Ortográfico: o que muda? E, ainda, a exposição do gramático brasileiro Sérgio Nogueira em registo de vídeo, aqui.
