Não poderemos avaliar o rigor da interpretação apresentada pelo consulente na questão porque não nos foi possível identificar a edição da Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et al. citada.
Não obstante, na edição 5.ª edição, revista e aumentada, desta obra, é dito de forma clara que «quem, precedido de preposição, usa-se com antecedente exclusivamente humano, como objeto indireto, e como oblíquo; quando precedido da preposição de marca também o genitivo» (p. 663). Para confirmar esta afirmação, apresentam-se os exemplos aqui transcritos como (1), (2) e (3):
(1) «Apareceu o homem a quem fizeram tanto mal.»
(2) «Eis a pessoa sobre quem tanto falaram.»
(3) «Está ali o homem de quem perguntaste o nome.»
Para melhor compreender o funcionamento do relativo quem, é importante distinguir duas situações: aquelas em que este integra uma oração subordinada adjetiva, que tem, portanto, um antecedente expresso; aquelas em que surge sem antecedente expresso, integrando uma oração subordinada substantiva.
Nos casos em que tem antecedente expresso, o relativo quem só ocorre em oração relativa introduzida por preposição, desempenhando as funções sintáticas referidas por Mira Mateus acima.
Já nas orações relativas sem antecedente, quem desempenha qualquer função sintática, podendo não ser introduzido por preposição, como acontece nas funções de sujeito ou de complemento direto, como se observa em (4) e (5):
(4) «Quem tudo quer tudo perde.»
(5) «Sei quem a Rita encontrou no cinema.»
Os exemplos apresentados pelo consulente constituem casos de utilização do relativo quem sem antecedente. Acresce que em ambas as frases apresentadas o relativo quem desempenha função sintática de sujeito, pelo que as frases estão corretas, não havendo lugar à utilização de preposição.
Disponha sempre!