DÚVIDAS

Oração reduzida encaixada: «quando comparada com os seus colegas»

Na frase «Ela trabalha muito bem quando comparada com os seus colegas», o particípio passado comparada concorda com o sujeito.

Não me parece que tenha função adjetival, mas também não há verbo auxiliar para me dar a certeza de que se trata da voz passiva. Parece-me haver omissão do verbo ser: «Ela trabalha muito bem (se for) comparada com os seus colegas.»

Será assim?

Obrigada.

Resposta

O segmento «quando comparada com os colegas» pode ser interpretado como uma estrutura oracional passiva reduzida encaixada numa oração adverbial.

As orações passivas participiais podem ter duas naturezas:

(i) Uma estrutura oracional plena, que inclui um verbo flexionado ou um infinitivo não flexionado:

(1) «A tarte foi cozinhada pela Joana.»

(ii) uma estrutura oracional reduzida, na qual o particípio passado não é acompanhado por um auxiliar flexionado:

(2) «A tarte, cozinhada pela Joana, é uma sobremesa deliciosa.»

Estas estruturas oracionais reduzidas surgem principalmente com a função de modificador de nome, incidindo sobre um nome1.

O particípio passado presente nas orações passivas caracteriza-se por concordar em género e número com o sujeito da oração, ao contrário do que acontece com o particípio passado usado em tempos compostos:

(3) «O bolo foi cozinhado pela Joana. / Os bolos foram cozinhados pela Joana. / A tarte foi cozinhada pela Joana. / As tartes foram cozinhadas pela Joana.»

(4) «A Joana tem cozinhado tartes. / As amigas têm cozinhado tartes.»

No caso da frase apresentada pela consulente, o segmento «comparada com os colegas» tem uma estrutura equivalente à apresentada em (2), como se pode observar pela adaptação da frase em (5):

(5) «Ela, (sendo) comparada com os seus colegas, trabalha muito bem.»

Esta construção passiva foi inserida numa oração introduzida por quando, o que, neste caso, acrescenta ao valor passivo um valor de hipótese, que também se pode traduzir pelo uso da conjunção se, como sugerido pela consulente.

Disponha sempre!

 

Cf. Peres e Móia, Áreas críticas da língua portuguesa. Caminho, 1995, p. 211-212.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa