DÚVIDAS

Quantificadores: «grande parte» e toda

Qual é a maneira mais correta de exprimir a ideia de que uma história é em parte, ou talvez até completamente, ridícula? Dizendo: «Grande parte, se não toda, da história é ridícula» ou «Grande parte, se não toda, a história é ridícula»?

Resposta

Amabas as frases estão incorretas.

Estamos perante um problema de diferente estrutura sintática, i.e., o quantificador «grande parte» inclui uma preposição, mas o quantificador toda associa-se a um grupo nominal sem preposição:

(1) «Grande parte da história é ridícula»

(2) «Toda a história é ridícula»

Nas frases em questão, pretende-se combinar os dois quantificadores – «grande parte de» e toda –, mediante um construção condicional («se não...») que é equivalente a uma coordenação disjuntiva (o * indica agramaticalidade):

(3) «Grande parte, se não toda, da história é ridícula» = *Grande parte ou toda da história é ridícula»

(4) «Grande parte, se não toda, a história é ridícula» = *Grande parte ou toda a história é ridícula.

Nos exemplos acima, as estruturas de coordenação equivalentes são agramaticais, porque as propriedades sintáticas de «grande parte» e toda são diferentes: em (3), a estrutura de coordenação apresenta a preposição de, que se associa com «grande parte» mas não pode asociar-se a toda; em (4), falta a preposição que «grande parte» exige.

Assim, considerando que o que se passa com «grande parte de» e toda é análogo aos problemas levantados pela coordenação de palavras com regência diferente, importa assinalar um preceito de Evanildo Bechara: «não se dê complemento comum a termos de referência de natureza diferente» (Moderna Gramática Portuguesapág686). Por isso, o melhor é reestruturar-se a frase, trazendo a construção condicional para o final, por forma a que não fique agramatical:

(5) «Grande parte da história é ridícula, se não toda».

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