DÚVIDAS

A construção «entende-se por»

Escrevo para tirar uma dúvida sobre a forma mais apropriada de interpretar a expressão «entende-se por» em períodos como este:

«Entende-se por poder de polícia a atividade que regula uma prática.»

Nesse tipo de período, a partícula se está marcando um caso de voz passiva ou de sujeito indeterminado?

A presença da preposição por parece apontar para sujeito indeterminado, mas o verbo entender pode ser transitivo direto e indireto e há um sintagma não iniciado por preposição («a atividade que...») que poderia fazer o papel de sujeito da passiva, ainda que não venha logo após a partícula.

Por outro lado, montar essa frase com o possível sujeito na posição que habitualmente ocupa em passivas sintéticas me parece pouco natural («Entende-se a atividade que regula uma prática por poder de polícia»), fora a questão de que, nas construções passivas, a preposição por costuma introduzir agente da passiva, mas esse não é o caso em períodos que usam «entende-se por».

Essa dúvida surgiu no trabalho, quando estávamos discutindo se o verbo entender deveria ir para a terceira do plural em um caso como este: «Entendem-se por poder de polícia as atividades que regulam uma prática.»

Obrigado.

Resposta

As duas interpretações de se afiguram-se possíveis.
 
a) se = sujeito indeterminado (ou impessoal): «entende-se por poder de polícia a atividade que regula uma prática»;
 
b) se = partícula apassivadora: neste caso, torna-se possível «entendem-se por poder de polícia as atividades que regulam uma prática».
 
Note-se que «por poder de polícia» não é agente da passiva, mas, sim, um predicativo, que na interpretação é um predicativo do objeto, e na interpretação b) é um predicativo do sujeito.
 
Importa também observar que, na construção «entende-se [nome] por [nome]», se destaca uma preferência pela interpretação a), dado que se referem expressões que funcionam como singular. Na verdade, parece preferir-se «entende-se por poder de polícia as atividades que regulam uma prática», porque se subentende que se faz referência a uma expressão, e não a uma pluralidade: «entende-se por poder de polícia [a expressão] atividades que regulam uma prática».

 

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