Tendo em conta a proposta de L. F. Lindley Cintra ("Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses", Boletim de Filologia 22, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 1971, págs. 81-116), verifica-se que São João da Madeira, no norte do distrito de Aveiro (Portugal), se situa na zona dos dialetos setentrionais portugueses. É, pois, de esperar que nessa cidade portuguesa o discurso de muitos falantes exiba características fónicas desses dialetos, sobretudo uma que contrasta claramente com o português standard ou padrão: trata-se do chamado betacismo, ou, como se diz popularmente, a confusão entre o v e o b (vale soa "bale"). Quanto ao léxico, o contraste pode não ser tão claro, mas, pertencendo São João da Madeira já à Área Metropolitana do Porto, é natural que aí sejam conhecidos vocábulos do falar tripeiro (p. ex., aloquete ou cruzeta), a par de outros mais específicos da região onde a cidade se situa — vocabulário a respeito do qual não me foi possível encontrar estudos. Sugiro, portanto, que o consulente faça a sua própria recolha.
Quanto à discriminação de indivíduos em contexto profissional, por causa de traços dialetais, existe na realidade uma certa pressão para censurar (consciente ou inconscientemente) certos traços regionais da pronúncia em muitos ramos de atividade, sobretudo os que envolvem maior contacto com o público. Quem viveu ou cresceu em meios rurais sente-se muitas vezes constrangido a disfarçar a pronúncia nativa quando se desloca para um grande centro urbano. Mas há casos em que a adaptação ao padrão linguístico nacional é mesmo uma necessidade, dada a especificidade de certos traços dialetais, suscetíveis de impedir a comunicação com falantes de outras regiões.