DÚVIDAS

Verbos plenos e verbos auxiliares

«Eu gostaria de ajudá-la.»

«Ele as incentivou a ajudarem-no.»

Na primeira frase , seria possível haver uma mesóclise? Ex.: «Eu gostá-lo-ia de ajudar.»

A pergunta surge porque eu o tinha como verbo auxiliar.

«c) vontade ou desejo: querer escrever, odiar escrever, desejar escrever, […]»

Porém, gostar aparentemente não é. Parece sensitivo, então, não?

Na segunda frase, gostaria de saber se o verbo incentivar possui as características de um verbo causativo.

A dúvida surge porque, conquanto – na minha linha de raciocínio – existam os elementos de um verbo causativo, há, aqui, uma preposição (diferente dos vários verbos causativos com os quais estou acostumado). 

Em minha cabeça não tão familiarizada com terminologias diferentes, neste caso, ou é um verbo auxiliar (a flexão do infinitivo estaria errada), ou é um verbo causativo (a flexão do infinitivo também estaria errada). Há um terceiro elemento que paira sobre mim, e eu não o vejo? 

Obrigado. 

Resposta

Os verbos gostar e incentivar não são auxiliares nem sensitivos.

Como a questão da auxiliaridade verbal é complexa, foi necessário ampliar a resposta num outro artigo¹, a fim de dirimir o maior número possível de dúvidas acerca desse tema.

Quanto aos verbos causativos e sensitivos, existe um número bem delimitado: mandar, deixar, fazer e sinônimos (causativos); ver, ouvir, sentir e sinônimos (sensitivos). Exemplos:

– Mandei o rapaz entrar na sala.

– Deixaram o cão subir no sofá.

– Fizeram-nos descer do palco.

– Elas nos viram cantar sozinhos.

– Ouvi fofocarem sobre nós.

– Sentiram o frio atravessar a espinha.

Note também que os verbos acima nunca exigem preposição, pois são transitivos diretos – já gostar é transitivo indireto («gostar de» + infinitivo) e incentivar é transitivo direto e indireto («incentivar alguém a» + infinitivo). Esta é mais uma razão de não se enquadrarem entre os causativos e sensitivos.

Por fim, sobre a dúvida da mesóclise em "Eu gostá-lo-ia de ajudar", é o seguinte: uma vez que gostar não é um verbo auxiliar, pois exige objeto indireto — seja em forma de termo («Gosto de sorvete»), seja em forma de oração («Gosto de ajudar o meu pai») –, não é possível ocorrer mesóclise; além disso, o pronome oblíquo átono o (-lo) não funciona como objeto direto de gostar, e sim de ajudar: «Eu gostaria de ajudá-lo.»

Sempre às ordens!

 

1  Cf. Fernando Pestana, "Os verbos auxiliares na perspetiva das gramáticas brasileiras", 30/09/2025.

 Por ser brasileiro o consulente, foi usada na resposta a nomenclatura gramatical do Brasil.

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