DÚVIDAS

Concordância: adjetivos + nomes coordenados
Tenho uma questão quanto à qual a gramática tradicional é um tanto quanto esquiva, então gostaria de seus pareceres. Se trata de campo semântico de adjetivos em sintagmas nominais com mais de um substantivo. Considerando-se que a GT [gramática tradicional] diz que um único adjetivo caracteriza mais de um substantivo (pelo menos enquanto o sentido do adjetivo os cobrir) e que isso ocorre conforme a disposição de termos no sintagma — inclusive em todos os casos de concordância atrativa — (o que é minha maior dúvida se de fato o é), me interesso em saber como contornar interpretações equívocas nestes casos, mormente casos em que a concordância atrativa é obrigatória, por ex., quando adjetivo(s) anteposto(s) (funcionando de adjunto adnominal) aos nomes: «Comprei manuais e gramáticas velhos/velhas.» (penso que caracterize ambos independentemente da ausência de determinantes e da concordância estabelecida, tanto é que se objetivasse a caracterização de somente um nome contornaria assim: «Comprei manuais velhos e gramáticas.» / «Comprei gramáticas velhas e manuais.» Nestes casos, a concordância se faz obrigatoriamente com o mais próximo, pois logicamente só há o mais próximo para concordar. Por conseguinte, quanto a isso também gostaria de saber que acham.) «Comprei velhos manuais e gramáticas.» (nota-se que o sentido do enunciado, provocado pelo deslocamento do adjetivo, mudou. Aqui começa a complicar em meu entender, pois o adjetivo pode, conforme sua carga semântica, caracterizar ambos. E fico em dúvida se efetivamente ocorre, a ausência de determinantes teria alguma implicação diferente na interpretação? Suponho que não... «Comprei os manuais e as velhas gramáticas.» (Por mais que a concordância seja atrativa, não por intuição possibilidade de caracterização semântica de ambos.) Para não ir à exaustão com exemplos, para com casos de adjuntos adnominais, paro por aqui. Ao predicativo do objeto agora: Minha questão com este é mais sobre como contornar a interpretação de que ambos os substantivos são modificados. Para tal recorrendo a pontuação, penso conseguir fazê-lo. No entanto, como estou estudando pontuação ainda (sou um exímio "pontuador"); não sei se satisfaço plenamente a questão, portanto a vocês recorro. «Comprei velhas as gramáticas; e os manuais» (não necessariamente velhos). (E as gramáticas enquanto velhas, não necessariamente estão velhas no momento da enunciação.) Aguardo suas reflexões ansiosamente. Obrigado pela atenção.
«Tarte de noz» e «tarte de nozes»
Tenho vindo a notar que em muitas embalagens e placas informativas, principalmente no ramo da alimentação, têm vindo a usar muito o singular das palavras, como por exemplo: «tarte de noz.». Esta seria talvez, confecionada com mais do que apenas uma noz. Qual seria o mais correto: «tarte de noz» ou tarte de nozes» ou «tarte com aroma a noz»? Porque temos uma outra situação relacionada com os sabores e aromas. Normalmente dizemos: «bolo de laranja», «bolo de maçã», «bolo de banana», e por aí além, mas existe alguma regra no que diz respeito às quantidades, para definir se o nome é no singular ou no plural? Obrigado.
Também e
A ambiguidade da palavra também pode ser explicada sintaticamente? Partamos da frase: «João foi ao jogo.» Nela, podemos incluir a palavra “também” com dois sentidos distintos: 1) Também João foi ao jogo = [além de José,] também João foi ao jogo 2) João foi ao jogo, também = João foi [à festa e] ao jogo, também Sem contar opções mais ambíguas (quanto mais próximo ao verbo, maior a ambiguidade): 3) João também foi ao jogo – mais próxima ao exemplo 1, mas pode gerar ambiguidade 4) João foi também ao jogo – mais próxima ao exemplo 2, mas pode gerar ambiguidade Todas as gramáticas e dicionários classificam o também como advérbio e adjunto adverbial «de adição» ou «de inclusão». Contudo, é interessante notar que: a) no exemplo 1, o também adiciona uma informação ao sujeito; b) no exemplo 2, o também adiciona uma informação ao objeto indireto. Fenômeno análogo ocorre com o advérbio , embora com diferenças, p.ex.: 1) Só João vai ao jogo = e ninguém mais vai com ele = referente ao sujeito => inequívoco; 2) João só vai ao jogo = (não faz mais nada = referente ao verbo) OU (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto); 3) João vai só ao jogo = (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto) OU (vai sozinho = adjetivo); 4) João vai ao jogo, só = (só isso acontece) OU (foi sozinho = adjetivo). No entanto, no exemplo citado, o fenômeno não acontece com outros advérbios, como sempre e nunca: – Sempre/nunca João vai ao jogo = João sempre/nunca vai ao jogo = João vai ao jogo, sempre/nunca = é o que ele sempre/nunca faz. A variedade de sentidos aumenta em frase que usa verbo bitransitivo. P.ex., com também: 1) Também João deu um presente a Maria = outra pessoa também deu = referente ao sujeito; 2) João também deu um presente a Maria = João também fez outras coisas, além de dar um presente = referente ao verbo; 3) João deu também um presente a Maria = João também deu outras coisas, como um abraço = referente ao objeto direto; 4) João deu um presente também a Maria = João deu também a outra pessoa = referente ao objeto indireto; 5) João deu um presente a Maria, também = ambiguidade. Com : 1) Só João deu um presente a Maria = ninguém mais deu = referente ao sujeito; 2) João só deu um presente a Maria = João só fez isso = referente ao verbo; 3) João deu só um presente a Maria = João deu só um, não dois presentes = referente ao objeto direto; 4) João deu um presente só a Maria = João deu só a Maria, a ninguém mais = referente ao objeto indireto; 5) João deu um presente a Maria, só = forma incomum, truncada Já com sempre e nunca, o significado antes invariável apresenta agora sutis variações. Comecemos com o sempre: 1) Sempre João dá um presente a Maria = ambiguidade (sempre ele ou segue o sentido 2); 2) João sempre dá um presente a Maria = sempre faz a mesma coisa = referente ao verbo; 3) João dá sempre um presente a Maria = nunca dá outra coisa = referente ao objeto direto; 4) João dá um presente sempre a Maria = nunca a outra pessoa = referente ao objeto indireto; 5) João dá um presente a Maria, sempre = ambiguidade (segue 2 ou 4). Agora com nunca: 1) Nunca João dá um presente a Maria = ambiguidade (segue 2 ou, incomum, nunca ele); 2) João nunca dá um presente a Maria = nunca faz isso = referente ao verbo; 3) João [não] dá nunca um presente a Maria = sem o acréscimo do “não” é incomum, com o “não” segue 2; 4) João [não] dá um presente nunca a Maria = incomum, segue 3; 5) João [não] dá um presente a Maria, nunca = segue 3 Apesar disso tudo, continuam todos sendo adjuntos adverbiais (exceto o , que numa das frases acima é adjetivo, como indiquei). Há alguma explicação sintática para a mudança de sentido conforme sua colocação na frase? Muito obrigado pela atenção.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa