DÚVIDAS

Pronome recíproco: espanhol vs. português
A seguinte situação é-me um bocado confusa, pois lamentavelmente tenho dificuldade em parar de pensar de acordo com a gramática de um dos meus idiomas maternos, o espanhol. No espanhol, é possível construir a frase imperativa «apriétense las manos!» ou «dense las manos!», pois no espanhol, estamos a mandar fazer essa ação reciprocamente. Em português, não entendo porque só há de ser «apertem as mãos» e «deem as mãos» (versus estas supostas frases erradas segundo os nativos de português: “apertem-se as mãos” e “dêem-se as mãos.) Agradeço antecipadamente a vossa resposta.
Orações condicionais com verbo no pret. perf. composto do indicativo
Primeiramente agradeço o sempre excelente trabalho que vocês desempenham. Tenho encontrado em Machado de Assis um tipo de construção que me é nova: o uso do pretérito perfeito composto do indicativo em lugar do pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo, especialmente em situações condicionais, hipotéticas. Trago abaixo alguns exemplos do mesmo escritor. A locução de tempo composto vai destacada em maiúsculas: 1) "Um dos oradores do dia 21 observou que se a Inconfidência TEM VENCIDO, os cargos iam para os outros conjurados, não para o alferes. Pois não é muito que, não tendo vencido, a história lhe dê a principal cadeira." 2) "Teve seus minutos de aborrecimento, é verdade; a princípio doeu-me que Ezequiel não fosse realmente meu filho, que me não completasse e continuasse. Se o rapaz TEM SAÍDO à mãe, eu acabava crendo tudo, tanto mais facilmente quando que ele parecia haver-me deixado na véspera evocava a meninice, cenas e palavras, a ida para o colégio..." 3) "De repente, cessando a reflexão, fitou em mim os olhos de ressaca, e perguntou-me se tinha medo. — Medo? — Sim, pergunto se você tem medo. — Medo de quê? — Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar... Não entendi. Se ela me TEM DITO simplesmente: "Vamos embora!" pode ser que eu obedecesse ou não; em todo caso, entenderia." Onde destaquei, parece dizer-se "tivesse vencido", "tivesse saído", "tivesse dito". Sei que muitos tempos e modos podem assumir o lugar de outros, como "Se eu fora (fosse) rico...", mas é a primeira vez que me deparo com tal possibilidade, e nunca a vi noutro autor. Tem certa semelhança com o uso corrente do presente do indicativo a substituir o pretérito ou o futuro do subjuntivo: "Se erro a questão, reprovo". Vocês têm conhecimento dessa hipótese de substituição? É prevista em alguma gramática? Acha-se noutros escritores?
Exclamação e reticências
Para além da minha profissão na área tributária, sou escritora e poeta. A língua portuguesa é, para mim, essencial no meu dia a dia e costumo dizer que tive o privilégio de ter bons professores de português ao longo da minha vida estudantil. A minha tendência natural foi seguir Humanidades, desejando formar-me em História, contudo acabei em Direito. Recentemente, para além do prazer, por necessidade, comecei a fazer revisão de textos (técnicos, históricos, infantojuvenis, poéticos/poesia…). Naturalmente, que no decorrer desta nova atividade, tenho-me deparado com todo o tipo de formação e conhecimento das pessoas que se cruzam comigo. Na sequência da revisão a um prefácio elaborado num livro de poesia por uma professora de português, e em virtude de não ser do meu conhecimento a utilização de, no final de uma frase, reticências seguidas de um ponto de exclamação, questiono se tal é correto aplicar-se. Segue um exemplo: «[…] A determinada parte do texto, verifica-se uma dor plangente, e a necessidade de uma fuga que se crê premente, porquanto, só os braços da sua mãe, lhe dão o conforto que o mundo roubou sem porquê…! […]» Grata, desde já, pela atenção que possam dispensar.
Ordenação de tempos verbais numa frase
A minha questão diz respeito a esta frase encontrada na página 291, linhas 5 e 6, da tradução portuguesa da obra Dracul, de Dacre Stoker e J.D. Barker, publicada pela TopSeller: «Até há instantes, eu tremia furiosamente, mas conseguira, por fim, acalmar.» Na frase transcrita, o uso do verbo no pretérito-mais-que-perfeito (conseguira) estará correcto? Não deveria o verbo tremer ter sido conjugado no pretérito-mais-que-perfeito, e o verbo conseguir no pretérito perfeito, uma vez que aquela ação precede temporalmente esta última? Obrigado, desde já, pela atenção.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa