DÚVIDAS

Percentagem e o adjetivo numa frase negativa
Gostava que, se possível, me explicassem duas dúvidas. Na frase: «61% dos portugueses não leram um só livro no último ano.» – O verbo ler deve estar no plural, como está, ou deveria estar no singular (leu) uma vez que o sujeito é 61%? – O uso do só nesta frase está correto (no sentido de «único») ou no fundo faz com que o sentido da frase seja exatamente o oposto do que o jornalista quer dizer que seria: «61% dos portugueses leram somente um livro.» Espero não ter sido confusa. No fundo queria saber se a forma verbal e o uso de só estão corretos nesta frase. Muito obrigada e obrigada por nos ajudarem a entender melhor a nossa língua.
«Tornar todos eles personagens»
Causou-me estranheza parte dum texto com que me deparei hoje: «Lisboa era visitada por gente de todo o mundo e para ela convergiam pessoas ilustres e foi difícil deixá-los de fora: embaixadores, aristocratas, pobres, prostitutas, amas, até um macaco. Não resisti a tornar todos eles personagens numa Lisboa protagonista absoluta.» Não deveria ter sido usado o pronome clítico os em vez de eles como complemento do verbo tornar («torná-los todos personagens»)? Aproveito o ensejo para parabenizar a equipe do Ciberduvidas pelo inestimável serviço que presta ao nosso querido idioma.
Nesse/desse vs. naquele/daquele
Gostaria que me explicassem o uso dos demonstrativos nesse, neste e naquele em relação ao tempo. Seriam nesse e naquele referência ao passado e neste ao presente? Nesse dia, eu estava doente. Ela partiu a perna, naquele fim de semana. Neste momento, eu não posso. Ainda que a minha interpretação esteja correta, existe alguma diferença entre o nesse e naquele? Seria naquele para se referir a um passado mais longínquo? Essas mesmas interpretações de tempo servem para o desse, deste e daquele? Não consigo pensar em nenhuma frase que pudesse ter essa interpretação. Caso esteja errada, poderiam dar-me alguns exemplos, por favor? Agradeço a atenção dispensada.
«Mesmo quando» e «ainda quando»
Eu estava lendo um texto, e se me apresentou que a conjunção quando e as locuções conjuntivas «ainda quando» e «mesmo quando» podem ser usadas em orações subordinadas com valores concessivos. Vocês poderiam destrinçar essa possibilidade de usos, em que quando é usado em orações temporais e é antecedida por mesmo ou por ainda?  E também apresentar possíveis orações com essas três palavras, entre aspas, com valores concessivos? Desde já, meu agradecimento.
Locuções correlativas, coordenação e vírgulas
As locuções «não só...mas também...», «tanto...como...», «seja... seja...» devem-se fazer acompanhar de alguma vírgula? «O Rui não só era estudioso mas também muito persistente.» «Conquistou várias vitórias tanto a nível económico como social.» «O João tanto trabalhava em casa como praticava desporto.» «É preciso ser persistente seja nos tempos bons seja nos tempos maus.» Cordialmente.
Escravo e «pessoa escravizada»
Gostaria de saber se existe uma diferença marcada entre as palavras escravo/a e escravizado/a e se se deve evitar a utilização da primeira. Alguns teóricos e autores sobre o assunto (especialmente na academia brasileira) argumentam, atualmente, que se deverá utilizar a expressão escravizado/a em vez de escravo/a para designar alguém privado de liberdade e direitos cívicos e que é propriedade de outrem. Poderiam esclarecer-me se é mesmo assim? Devemos dizer «pessoa escravizada» em vez de escravo/a? Grata pela vossa atenção.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa