Correio - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Luis A. Afonso Portugal 1K

Caro Ciberdúvidas,

Venho, mais uma vez, em acção de protesto, pela forma calamitosa como os canais temáticos da nossa televisão, e em particular o canal História, tratam o nosso idioma e, até, como lhes é estranha a cultura geral mais rudimentar.

Comecemos por aqui.

O episódio em causa refere-se às conquistas tecnológicas da China no tempo dos imperadores.

«... os esqueletos do bicho-da-seda (eram usados para adubar a terra).»

Tal e qual!

Portugal é com certeza o único país do mundo inteiro em que se ensina que um verme tem… esqueleto!

Deixai-me fazer um avanço ao que deve ter acontecido.

O tradutor, com human remains na tonta cabeça, e vendo no guião remains, tratou logo de traduzir por «esqueletos». Aliás, diga-se de passagem, o termo indicado, human remains, refere-se à totalidade do cadáver e não apenas da parte do corpo humano constituído pelo tecido ósseo.

Agora o pontapé na gramática:

«... peneireiro, como o instrumento constituído por uma caixa circular de madeira, sendo o fundo de rede metálica, e que serve para separar o grão dos cereais da palha.»

Quer dizer, o erro é duplo, pois a palavra adequada seria crivo, peneireiro soando a peneiro, peneira. Quanto a peneireiro, é, toda a gente sabe, uma ave de rapina ainda não extinta.

E assim vai a divulgação da cultura.

Luís A. Afonso Portugal 1K

Quando das campanhas de Alexandre, o Grande, sobre a cidade de Tiro (Fenícia), o Canal de História [Portugal] não está para meias-medidas: atribui às muralhas da cidade a altura de 150 metros.

O tradutor passou de 150 pés (confirmado na Internet) para os inconcebíveis 150 metros. Mesmo que o pé valesse diferentemente do inglês quando Alexandre (séc. III a. C.) a assediou, andaria por 40 a 50 metros, o que, sendo muito notável (compare-se com o Castelo de São Jorge), não se configura impossível.

Pode dizer-se que, mais uma vez, o Canal de História meteu os pés… pelos metros.

Luís Afonso Portugal 1K

O locutor situou a erupção do Vesúvio a 79 antes de Cristo, o que é, quanto a mim, inegavelmente bárbaro. O episódio deu-se em 79 d. C. sob o reinado do imperador Tito, que sucedeu ao pai, Vespasiano, nesse mesmo ano. Em 79 a. C. foi a morte de Sila (adversário político de Mário), tendo a República Romana sobrevivido por mais 50 anos aproximadamente. O primeiro imperador foi César Augusto (27 a. C.–23 d. C.) tendo-se-lhe seguido: Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Otho, Vitélio e Vespasiano (deificado em 79 d. C.). Tito em 70 faz cair Jerusalém. O que aconteceu?

Muito simples: vou pôr-me a adivinhar. O impagável tradutor do National Geographic viu escrito (ele pode garanti-lo) 79 a. C. e, sem hesitar, escreveu no guião aquela data. O locutor tão ignorante quanto ele, lê, evidentemente, 79 antes de Cristo.

E pronto!

Qualquer aluno do 1.º ano de Inglês sabe que B. C. = before Christ e A. C. = after Christ.

Saberá a National Geographic (uma entidade reputada) em que mãos caiu a sua correspondente (cliente, filial, ou o que quer que seja) em Portugal? Respondo sem titubear: não sabe, nem sonha.

Eu, por mim, como consumidor, tenho o direito de exigir qualidade aos canais temáticos; por sua vez, Ciberdúvidas tem o dever, que advém da sua qualidade científica e da proclamada incumbência de defender a Língua Pátria, de fazer seguir reparos como este a quem de direito. Que assim seja entendido de uma vez para sempre.

José Raimundo Correia de Almeida S. António de Cavaleiros - Portugal 1K

No programa Prós e Contras [de 11 de Junho de 2007], na RTP 1, Fátima Campos Ferreira fez uma má acção: estrangulou a hora. Disse que, por medo, os emigrantes portugueses na Holanda, que lhe tinham assegurado o testemunho, não compareceram «à última da hora». A tortura começou pelas 22h54, mas como a hora tinha ficado a estrebuchar, deu-lhe mais um apertão, que definitivamente a matou pelas 23h16.

Deve dizer-se «à última hora».

Cuidado com a língua.

Ciberdúvidas da Língua Portuguesa 1K

Tendo a Comissão Organizadora do Campeonato Nacional da Língua Portuguesa enviado uma mensagem ao grupo de subscritores da Carta de Protesto contra a edição de 2007 do referido campeonato, divulga-se a carta-resposta desse grupo de participantes/subscritores.

Arnaldo Muceba Noruega 1K

Como fazer para procurar as perguntas?

João Barroca Portugal 1K

Só mais esta questão: o quê, e por que entidades, está a ser feito este ano, para promover o ensino e a divulgação das línguas, aqui em Lisboa?

Obrigado.

Rui Vaz 1K

Gostava de sugerir que desenvolvessem a criação de um feed de RSS para as entradas do Ciberdúvidas.

Isso criaria um recurso muito valioso, que facilitaria o acesso e potenciaria a divulgação do Ciberdúvidas, não só ao nível do utilizador individual, mas também como recurso educativo para as múltiplas plataformas moodle que se estão a desenvolver em todas as escolas do país, por ex.

Ciberdúvidas 1K

45 participantes na edição de 2007 do Campeonato Nacional da Língua Portuguesa, entre os quais os vencedores das duas anteriores edições, na categoria de maiores de 18 anos,  subscreveram a seguinte carta de protesto, dirigida aos organizadores, promotores e patrocinadores deste evento.

Ver também: A má língua do concurso da SIC

Henrique Oliveira Portugal 1K

Antes, de mais, muitos parabéns pelo vosso precioso site.

Escrevo para deixar registado um daqueles, infelizmente, numerosos casos, em que alguns portugueses preferem utilizar "software" em inglês quando existe versão em português.

É caso para dizer: com amigos/falantes assim, a língua portuguesa não precisa de inimigos...

O caso a que me refiro é tão mais gravoso quanto é cometido por uma entidade pública, sob a alçada do Ministério das Finanças.

Neste site é indicado, a quem não disponha do Acrobat Reader, para o descarregar de: http://www.adobe.com/products/acrobat/readstep2.html
Ora, não lhes custava nada ter introduzido esta outra hiperligação: http://www.adobe.com/pt

Se as entidades estatais são as primeiras a atacar a nossa língua (sim, porque, intencionalmente ou não, trata-se de um acto que vai contra a língua), tentemos cada um de nós fazer alguma coisa por ela.

Saudações cordiais.