Obras como o Dicionário de Termos Informáticos, de Manuel de Sousa (Sporpress, Lisboa, 1997), ou o ambicioso dicionário da Academia, de Malaca Casteleiro (Verbo, Lisboa, 2001), estão longe de corresponder à rapidez com que entram na nossa língua neologismos de origem anglo-saxónica.
Em 16 de Janeiro, no "Diário de Notícias", a jornalista Maria José Margarido assinou sobre este assunto um texto com declarações das presidentes das associações portuguesas de Terminologia (APT) e das Empresas de Tradução (APET). O trabalho tem por título: "Língua portuguesa pouco dinâmica". Transcrevemos:
«O "suporte físico" do seu computador não tem dado problemas? E o "suporte lógico"? Cada vez que prime a tecla "ENTRAR", tudo corre bem? Está com dificuldades em compreender este texto? É natural, estes não são os termos que usa habitualmente para descrever a realidade informática. Mas experimente substituir as palavras colocadas entre aspas por hardware, software e ENTER. A familiaridade e a correspondência com o significado surgem, mas quem perde é a língua portuguesa, cada vez menos viva e dinâmica, e uma ciência que começa a dar os primeiros passos: a Terminologia.
«"Não sei quantos terminólogos existirão em Portugal, mas devem ser muito poucos." Rute Costa é presidente da Associação Portuguesa de Terminologia e da sua congénere europeia, mas as reservas em apontar um número – "cinco, dez..." – são naturais quando esta é uma nova profissão muitas vezes confundida com a de tradutor. Grosso modo, estes especialistas elencam as palavras correctas para designar as várias coisas em cada área – uma necessidade premente quando as realidades se transformam de forma cada vez mais estonteante. Portugal é que parece estar a perder o comboio e a faculdade de dar nomes às coisas: "A nossa língua está quase parada", refere a presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Tradução (APET), Fátima Castanheira.
«"Muitas vezes, perdemos tempo a traduzir termos que já existem – como aconteceu na área da formação profissional e do trabalho, onde existia um óptimo elenco de palavras, feito há 15 anos, e ninguém sabia de nada –, ou então está cada um no seu canto a encontrar significados diferentes para as mesmas coisas, caindo-se em falsos sinónimos e ambiguidades que não eram necessários", refere a responsável da APET.
Em realidades tão mutáveis e produtoras de objectos do quotidiano como as novas tecnologias – e as tecnologias em geral –, o nosso país acaba por não produzir nem os produtos nem a sua designação. "O walkman é uma marca registada da Sony que os franceses conseguiram traduzir com sucesso para baladeur." A norma foi instituída e ficou, tal como logiciel venceu o domínio anglófono do software.
«Nada disto é verdade em Portugal, onde as normas são instituídas apenas no papel - quando chegam a sê-lo. "Existem comissões técnicas, que dependem do Instituto Português da Qualidade, mas não há uma estrutura que coordene verdadeiramente a terminologia que deve ser usada em cada área", acrescenta Fátima Castanheira. A investigação que é realizada nas universidades, por outro lado, não tem a divulgação que merece (a Nova de Lisboa é pioneira neste campo); e faltam bons dicionários e enciclopédias para esclarecer as dúvidas. Países com línguas tão minoritárias como a Finlândia, a Suécia ou a Noruega têm, pelo contrário, uma actividade intensa no campo da sua Terminologia.
«"O método ideal de trabalho seria um tradutor contactar sempre o especialista da área e um terminólogo, e chegarem todos a acordo", explica Rute Costa. Em Portugal, a Administração Pública quer fazer uma terminologia do Sistema Educativo, a Rede de Observação da Terra também realizou um trabalho do género para a sua área e a Sociedade Portuguesa de Senologia (cancro da mama) idem. Mas, atenção: "O terminólogo só elenca as várias palavras possíveis para uma coisa. Cabe ao especialista de cada profissão decidir qual é o melhor termo", diz Rute Costa. Com os imprescindíveis factores económicos e sociais a assumirem uma grande importância na escolha.»