1. A saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit), na sequência do referendo realizado em 23 de junho p. p., tem também repercussões linguísticas. Com efeito, pergunta-se agora se o inglês manterá a hegemonia adquirida ao longo de décadas no funcionamento das instituições europeias – situação que permitiu ir elaborando, na política e administração comunitárias, uma modalidade burocrática de língua já um tanto afastada da matriz britânica. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se um apontamento que o jornalista português Eduardo Oliveira e Silva publicou neste dia no jornal i e no qual sugere que esta crise da União Europeia «talvez seja a oportunidade de [o inglês] dar mais espaço a outras [línguas], nomeadamente a nossa». Registem-se outros ecos mediáticos de uma eventual reconfiguração do conjunto de línguas de trabalho da UE: "Brexit: inglês pode deixar de ser língua oficial do Parlamento Europeu" (TVI 24); "Políticos franceses querem inglês fora da UE como língua oficial" (RTP Notícias); "Parlamento Europeu. Reino Unido fora da Europa, já!" (jornal i). E, a propósito do outro brexit – a eliminação da seleção inglesa do Europeu de futebol em França –, a crónica do jornalista português Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias de 29 deste mês, "O referendo foi o maior tiro no foot".
Acerca das repercussões do Brexit sobre as relações institucionais e políticas entre línguas no seio da União Europeia, leia-se "As línguas da Europa: o que mudará com o Brexit?", uma reflexão assinada pelos coordenadores de equipas no consórcio europeu de investigação Mobilidade e Inclusão na Europa Multilingue – MIME. Deste texto, publicado no jornal Público em 1/07/2016, salientamos a seguinte passagem (mantém-se a ortografia original): «Para quem [...] se preocupa com o reconhecimento desigual das línguas e com as transferências sem contrapartidas que a hegemonia de uma língua provoca, e quem defenda a multipolaridade no mundo, o “Brexit” também não será motivo de júbilo, pois a necessidade de defender activamente a diversidade linguística continuará a ser tão imperiosa como o era. Claro que o problema não é a língua inglesa; o problema é uma hegemonia desprovida de justificação política. As inquietudes que se possam ter a este respeito seriam exactamente as mesmas se a língua dominante fosse o francês e houvesse um “Frexit”.» Sobre o estatuto, o uso e o futuro do inglês na União Europeia, leiam-se também as considerações que o tradutor e professor universitário Marco Neves fez em 24/06/2016 no blogue Certas Palavras.
2. Sobre o Campeonato Europeu de Futebol de 2016, ultrapassados os «oitavos de final», as seleções apuradas, como a portuguesa, passaram aos «quartos de final»*, depois, as «meias-finais», e, por último, a «final» da prova. Vale a pena então lembrar que, ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Base XV, 6.º), não se hifenizam os compostos com elementos de ligação (ou seja, preposições). O contrário acontece com os compostos sem nenhum elemento de ligação, como «meia-final» (singular)/«meias-finais» (plural)** – enquanto a variante «semifinal» se grafa sem hífen. Sobre a hifenização de palavras compostas, consultem-se as seguintes respostas: "Dezasseis avos de final"; "Acerca de cor de rosa e cor-de-laranja"; "O uso do hífen segundo o Acordo Ortográfico"; "O hífen em palavras compostas e o novo acordo ortográfico"; "Meio-campo"; "Meia-diária".
* Na norma ortográfica anteriormente em vigor em Portugal, estas expressões exibiam hífen – quartos-de-final e oitavos-de-final. No quadro do novo acordo, suprime-se geralmente este hífen, mas deste preceito excluem-se as denominações de espécies botânicas e zoológicas: ervilha-de-cheiro, andorinha-do-mar.
** Vejam-se aqui outros exemplos de compostos com o adjetivo meio.
3. Na Montra de Livros, damos conta do livro Cruz, Credo, Bate na Madeira, da jornalista portuguesa Andreia Vale, que, nesta sua segunda obra, se concentra em crendices, superstições e expressões relacionadas. E, na rubrica O Nosso Idioma, deixamos em linha uma saborosa crónica do jornalista português Nuno Pacheco, intitulada "Proverbial achado" [in jornal "Público" do dia 1/07 p.p.], envolvendo um gato, uma plantação de cannabis descoberta num tellhado e... alguns dos mais expressivos rifões populares começados por "quem".
4. Em Portugal, anuncia-se o retomar das atividades letivas nos ensinos básico e secundário entre 9 e 15 de setembro p. f., conforme o calendário publicado no Despacho 8294-A/2016. Prevê-se igualmente que as provas de aferição, que, em 2015/2016, abrangeram as disciplinas de Matemática e Português nos 2.º, 5.º e 8.º anos, se estendam a outras áreas ou disciplinas no ano letivo de 2016/2017: no 2.º ano, a Expressões Artísticas e Físico-Motoras; no 5.º ano, a História e Geografia de Portugal; e, no 8.º ano, a Ciências Naturais e Físico-Química.
5. Na rubrica Notícias, deixamos disponível um vídeo-resumo dos trabalhos da III Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial realizada em Díli, de 15 a 17 de junho p.p
6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:
– Língua de Império e de Comércio, do Albuquerque “tirribil” ao impiedoso Gama, o português dominou orientes. Não foi um período tão longo quanto se pensa. Mas, como no slogan de Pessoa, entranhou-se, de Ceilão a Malaca, de Goa a Macau e à costa oriental africana, entre suaílis e outros alvoroçados comércios e domínios. O Língua de Todos de sexta-feira, 1 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 2 de julho, depois do noticiário das 9h00*), conversa com a professora Dulce Pereira sobre a classificação dos crioulos asiáticos de base portuguesa. Estão todos extintos? Mas, antes de mais, o que é uma língua crioula?
– Com o verão chegado a Portugal, e com o calor, as aulas chegaram ao fim. Tempo de balanço do ano letivo que passou, mas, antes de os alunos trocarem as salas de aulas pelas areias das praias, os exames nacionais. Mais de 100 mil alunos do 9.º ano e mais de 75 000 do 12.º ano, em Portugal, foram avaliados na disciplina de Português. O Páginas de Português de domingo, 3 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), falou com Edviges Ferreira, presidente da Associação de Professores de Português, sobre os exames.
* Hora de Portugal continental.
7. Como já aqui assinalámos, o Ciberdúvidas interrompeu o seu consultório linguístico até ao próximo mês de setembro, mas a Abertura continua a dar nota da atualidade respeitante à língua portuguesa, bem como a dar conta da publicação de conteúdos nas demais rubricas. Para outros assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, ficam os contactos indicados neste endereço.