«(...) [A sua] interação com as pessoas, provavelmente, ocorre com mais facilidade por ser considerada mulata e/ou morena. Essas e outras denominações demonstram como o preconceito é, muitas vezes, sutil e seletivo (...)»
Nessa lógica discriminatória, quanto mais claro, mais privilégios. Consequentemente, uma pessoa de pele escura sofre mais preconceito e tem menos oportunidades em todas as esferas sociais (científica, artística, jurídica, religiosa, etc.).
Um discurso muito utilizado no Brasil é de que “somos todos iguais”. Não, não somos! Inúmeras características influenciam na forma em que a sociedade nos interpreta. Além da cor, o cabelo, o nariz, a boca nos tornam mais ou menos negros, de acordo com quem faz essa “análise”, do cargo que ocupa e dos lugares que circulamos.
Uma mulher negra de pele clara, traços finos e cabelo cacheado, por exemplo, é aceita em locais elitizados. Sua interação com as pessoas, provavelmente, ocorre com mais facilidade por ser considerada mulata e/ou morena. Essas e outras denominações demonstram como o preconceito é, muitas vezes, sutil e seletivo.
Em compensação, uma negra retinta, de cabelo crespo, lábios e nariz grossos está mais suscetível à discriminação, mesmo que ocupe uma posição de destaque. No imaginário popular, ela pertence a uma camada inferior e pode, inclusive, oferecer risco a certos grupos. Isso vale tanto para homens quanto para mulheres de diferentes idades.
De acordo com os dados divulgados pela Agência IBGE, houve uma redução de 1,8% no número de brasileiros que se autodeclararam brancos entre 2012 e 2016. Já entre os que se autodeclararam pardos e pretos, o número aumentou em 6,6% e 14,9%, respectivamente.
Percebe-se que muitos indivíduos estão se reconhecendo negros. Mas é preciso enfatizar que cada um possui uma experiência em relação às questões raciais e é identificado de uma forma. Portanto, aqueles de pele clara e próximos ao padrão de beleza europeu sofrem menos preconceito, já os negros de pele escura são discriminados explicitamente e com mais violência.
No país onde um jovem negro morre a cada 23 minutos, compreender o colorismo é importante para que cada um reconheça os seus privilégios e lute pela tão sonhada “igualdade racial”. Vale lembrar que, infelizmente, isso está longe de acontecer, mesmo diante de muitas mudanças significativas.
Cf. Colorismo, nuevo significado + Entenda o que é o colorismo, termo que dominou as redes sociais nas últimas horas
Artigo de opinião originalmente publicado no jornal eletrónico brasileiro Voz das Comunidades no dia 21 de fevereiro de 2019.