A propósito do Dia Mundial da Língua Russa - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A propósito do Dia Mundial da Língua Russa
A propósito do Dia Mundial da Língua Russa
História e características do sétimo idioma mais falado no mundo

« (...) Com a dissolução da União Soviética, do Pacto de Varsóvia e as mudanças políticas ocorridas nesses países sobretudo na década de 1990, o russo perdeu projeção internacional. Não deixou, porém, de ser uma língua interessantíssima, das maiores e mais faladas línguas mundiais, de história milenar. (...)»

 

Com o objetivo de celebrar o multilinguismo e a diversidade cultural, a UNESCO instituiu, em 2010, o dia 6 de junho como Dia Mundial da Língua Russa, que se celebrou [em 6/06/2021]. A data foi escolhida por constituir o aniversário do nascimento de Alexander Pushkin, escritor romântico nascido em Moscovo, que viveu entre 1799 e 1837 e é considerado um dos mais importantes expoentes da literatura russa.

O russo é a sétima língua mais falada do mundo, logo a seguir ao português. Além da Rússia propriamente dita, é falado em países do Báltico e em vastas regiões da Europa do Leste, CáucasoÁsia Central e Sibéria. A língua russa é oficial da Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, reconhecida na Constituição da Moldávia como língua minoritária e goza de estatutos específicos em outros países e regiões da antiga esfera soviética. Deixou de ser língua cooficial de vastas regiões da Ucrânia Oriental e Meridional, com a abolição, em 2012, da lei sobre línguas minoritárias cooficiais, facto que funcionou como rastilho de violentos protestos pró-russos em 2014, com consequências sangrentas e desenvolvimentos políticos, sociais e bélicos que perduram até hoje.

O russo é a língua eslava mais falada, pertencendo ao seu ramo oriental, juntamente com o ucraniano e o bielorrusso.

A família das línguas eslavas comporta cerca de 20 línguas, divididas em três ramos (além do oriental, considera-se o ocidental, a que pertencem, e.g., o checo, o eslovaco e o polaco, e o ramo sul, a que pertencem, e.g., o sérvio , o croata e o búlgaro). A história das línguas eslavas, sobretudo desde a queda da União Soviética em 1991, é uma das mais conturbadas e interessantes que conheço e confirma o papel que as línguas podem ter como detonador de conflitos (tantas vezes atávicos) e como sustentáculo para a criação (ou a invenção) de países, nacionalidades e identidades coletivas.

O russo escreve-se com alfabeto russo, uma variante do cirílico. Este é usado para a escrita de seis línguas eslavas (bielorrusso, búlgaro, macedónio, russosérvio e ucraniano ), além de ter sido adotado para a grafia do mongolquirguiz e tajique.

O russo foi uma importante língua internacional durante a existência da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS), especialmente após o final da Segunda Guerra Mundial, tornando-se língua de trabalho de organizações internacionais como a ONU. Foi a principal língua de trabalho do Pacto de Varsóvia, aliança militar criada em 1955 pela União Soviética e os países do Leste Europeu (Polónia, República Democrática Alemã, Checoslováquia, Hungria, Roménia, Bulgária e Albânia, até 1968), alegadamente por contraponto à Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN (ou NATO, a forma inglesa da sigla). Funcionava como língua franca entre os ditos "países da esfera soviética", que incluíam, além dos mencionados, a latina Cuba; nestes a língua era muito estudada e usada, sobretudo nas esferas política, diplomática e militar.

Com a dissolução da União Soviética, do Pacto de Varsóvia e as mudanças políticas ocorridas nesses países sobretudo na década de 1990, o russo perdeu projeção internacional. Não deixou, porém, de ser uma língua interessantíssima, das maiores e mais faladas línguas mundiais, de história milenar, matéria-prima de uma riquíssima literatura e expressão de diferentes culturas.

Fonte

 Texto da autora publicado no Diário de Notícias em 7 de junho de 2021.

Sobre a autora

Margarita Correia, professora  auxiliar da Faculdade de Letras de Lisboa e investigadora do ILTEC-CELGAEntre outras obras, publicou Os Dicionários Portugueses (Lisboa, Caminho, 2009) e, em coautoria, Inovação Lexical em Português (Lisboa, Colibri, 2005) e Neologia do Português (São Paulo, 2010). Mais informação aqui. Presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) desde 10 de maio de 2018.