« (...) Discordando da adoção oficial da plurais "inclusivos" e linguagem inclusiva, a linguista mexicana Concepción Company Company nega reiteradamente, ao longo da entrevista – concedida à revista Zeta e incluída num trabalho intitulado "La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente", – que as novas formulações do espanhol sejam factor de igualdade de género, porque as línguas são arbitrárias e convencionais. (...)»
O contraste entre o género masculino e o feminino, que, no português, estrutura grande parte dos nomes e adjetivos, além de marcar outras classes de palavras, constitui uma característica morfológica muito antiga compartilhada com outras línguas românicas ocidentais, incluindo o espanhol (ou seja, o castelhano). Mas, na atualidade, a luta pela igualdade de género e a contestação da sociedade patriarcal têm levado, por exemplo, a procurar soluções inclusivas também linguísticas, entre elas, a de uma alternativa ao masculino plural, visto como discriminatório quando se refere a pessoas e animais de ambos os sexos. Criam-se assim grafias condensadas com recurso ao sinal @ ou às letras x e e no plural (tod@s, todxs ou todes) para assinalar os dois géneros geralmente marcados por -o e -a (todos e todas) ou opta-se no discurso oral ou escrito por desdobrar esses plurais em estruturas analíticas coordenadas: «mexicanos e mexicanas»/«mexicanas e mexicanos», em vez do sintético uso tradicional «mexicanos». No entanto, estas formulações para combater o sexismo encontram certas dificuldades e têm recebido muitas críticas em países cujas línguas oficiais ou principais têm dois géneros gramaticais, interpretáveis em função da diferenciação sexual, ainda que não totalmente.
Este é o contexto das declarações da linguista mexicana Concepción Company Company em entrevista concedida à revista Zeta e incluída num trabalho intitulado "La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente" – isto é, «a gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva».
Discordando da adoção oficial da plurais "inclusivos" e linguagem inclusiva, a linguista mexicana nega reiteradamente, ao longo da entrevista, que as novas formulações do espanhol sejam factor de igualdade de género, porque as línguas são arbitrárias e convencionais. Com efeito, no campo das profissões, é possível dar visibilidade às mulheres independentemente da formação sistemática de termos e expressões do género feminino (por exemplo, arquitecta ou jueza, respetivamente arquiteta e juíza em português), em simetria com os tradicionais nomes do género masculino (arquitecto, juez). Em contrapartida, há idiomas que, não obstante não marcarem contraste de género gramatical, são falados por sociedades que pouco ou nada consideram os direitos das mulheres. Além disso, sustenta Company, é duvidoso que a promoção ou imposição da linguagem inclusiva tenha impacto na morfologia da língua, dada a temporalidade própria dos fenómenos de inovação e mudança linguísticas: «A gramática é uma série de convenções seculares, até milenárias, sedimentadas sob a forma de regras, hábitos e rotinas, de muito lenta transformação, e devemos perceber, como é sabido, que o masculino não reflete sexo, reflete uma convenção indiferente ao género. Se eu perguntar «quantos filhos tem?», suponho que [quem me ouve] pensa em filhos e filhas, em todos; mas, se lhe perguntar «quantas filhas tem», ficam excluídos [os filhos]; esta é a prova de o masculino ser indiferente.» A entrevistada tece críticas ao uso de @ (que classifica de elitista) e construções coordenadas («todas e todos») em alternativa ao masculino plural abrangente dos dois géneros, por, a seu ver, criarem dificuldades de leitura ou de falta de economia da expressão.
Cf. Governo substitui “direitos do Homem” por “direitos humanos”
+ A linguagem inclusiva, esse "perigo público" + La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente