Pergunta:
Gostaria de saber quando usar de já e mais, por exemplo, «já não tenho ganas de o fazer», «não tenho mais ganas de o fazer».
Júlio Moreira refere que é erro usar de mais em lugar de já. Mas a que situações é que esse uso se aplica? Em que casos é que se emprega «já não» e «não mais»? Lendo José Luís Peixoto, tenho vindo a observar a presença de já não, embora noutras passagens ele se valha de não mais. Quando é que se deve usar «não mais» e quando «já não» de acordo com a norma culta portuguesa?
Reconhecido imensamente ao vosso trabalho.
Resposta:
Com efeito, algumas abordagens da língua consideram a construção «não mais», usada com valor temporal, um galicismo, defendendo ser preferível a opção por «já não».
Todavia, atualmente, as expressões, quando têm um valor temporal, são quase sinónimas e estão ambas corretas. A diferença entre elas tem lugar no plano aspetual, pois o advérbio já é usado quando o locutor pretende transmitir uma expectativa relativamente a algo que esperava que viesse a acontecer1:
(1) «O Pedro já começou a falar.»
Neste caso, o uso do advérbio já evidencia que o locutor tinha a expectativa de que o Pedro falasse.
Quando se afirma, como na frase apresentada pelo consulente:
(2) «Já não tenho ganas de o fazer.»
sinaliza-se que havia a expectativa de que uma dada situação tivesse lugar, o que não vai acontecer.