Pergunta:
Li, num livro, que o futuro normalmente está ligado a uma suposição e não a uma certeza, estando associado, por conseguinte, a uma probabilidade. Porém, o futuro não pode ser utilizado para expressar certeza?
Consideremos o seguinte enunciado: (I) Ele irá conseguir. Neste caso, (I) expressa uma certeza ou uma suposição?
E, agora, consideremos um enunciado semelhante: (II) Ele vai conseguir. Em (II), expressa certeza ou suposição?
O que me responderam foi que o (I) expressa suposição e o (II) certeza, devido ao tempo utilizado. Porém, em (II), o presente não adquire valor de futuro?
Agradeço a vossa preciosa ajuda para decifrar os mistérios da nossa tão vetusta e opulenta língua.
Resposta:
Com efeito, o futuro pode estar associado à expressão da modalidade epistémica com valor de probabilidade. Tal deve-se ao facto de o futuro referir uma situação que ainda não teve lugar, pelo que não será certo que venha efetivamente a ocorrer.
O valor de futuro pode ser expresso pela construção perifrástica formada pelo auxiliar ir seguido de verbo no infinitivo, como acontece nas frases apresentadas pelo consulente1. Esta construção localiza a situação descrita num momento posterior ao momento de enunciação (ou a um tempo de referência).
O tempo em que se conjuga o auxiliar ir pode contribuir para diferentes leituras modais:
(i) uma leitura modal com valor de probabilidade forte, quando o auxiliar é conjugado no presente do indicativo:
(1) «Ele vai conseguir.»
(ii) uma leitura modal com valor de incerteza, quando o auxiliar surge no futuro do indicativo:
(2) «Ele irá conseguir.»
Disponha sempre!
1. Note-se que um verbo conjugado no futuro não está no mesmo plano de uma construção perifrástica com valor de futuridade, pois o auxiliar desta última poderá não estar flexionado no futuro. Neste último caso, falamos apenas de valores temporais.