Uma reflexão sobre a palavra e o significado de eutanásia é o tema da crónica do professora Carla Marques.
Crónica da autora , emitida no programa Páginas de Português do dia 28 de fevereiro, na Antena 2.
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Uma reflexão sobre a palavra e o significado de eutanásia é o tema da crónica do professora Carla Marques.
Crónica da autora , emitida no programa Páginas de Português do dia 28 de fevereiro, na Antena 2.
Se bem entendo, em casos como «Eu tenho as chaves do João», «do João» é um modificador do nome restritivo. Mas se alterarmos a frase para «Eu tenho as suas chaves», usando assim um determinante possessivo, pode-se dizer da mesma forma que suas é um modificador do nome restritivo?
Obrigado pelo vosso tempo.
Com efeito, nas construção em apreço, o determinante possessivo desempenha a função de modificador do nome restritivo.
Em certos casos, o modificador de nome introduzido pela preposição de é equivalente a um determinante possessivo:
(1) «o livro do João» = «o seu livro»
Mas nem sempre esta equivalência é possível, como se observa em (2):
(2) «os sapatos de Itália» ≠ «os seus sapatos»
Não obstante, quando o determinante possessivo incide sobre um nome com um valor semântico de posse, este tem a função sintática de modificador do nome1.
Esta é a situação que tem lugar na construções apresentadas pelo consulente, nas quais os constituintes «do João» e «suas» desempenham ambos a função de modificador do nome:
(3) «Eu tenho as chaves do João.» = «Eu tenho as suas chaves.»
Disponha sempre!
1. Para mais informações, cf. Raposo et al. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 729-730.
Na frase «Depois de todo o terror, assistir àquilo foi a gota de água», o termo «a gota de água» é sujeito ou predicativo do sujeito do termo «assistir àquilo»?
É possível, no predicativo de um sujeito oracional, haver artigo?
Se for invertido assim «A gota de água foi assistir àquilo»,neste último caso, o termo «a gota de água» é sujeito?
Obrigado.
A questão que o consulente apresenta envolve diferentes planos de análise. Antes de mais, é importante esclarecer que a estrutura «a gota de água», que significa «aquilo que ultrapassa os limites de alguém» (Infopédia), é dotada de algum grau de cristalização, na medida em que não é possível substituir água por vinho ou o artigo definido por um artigo indefinido, por exemplo.
Quando integra uma construção copulativa, o constituinte «a gota de água» pode veicular uma avaliação sobre o sujeito da frase. Em (1)
(1) «A queda do João foi a gota de água.»
o locutor avalia a situação descrita como «queda do João» como algo que constituiu o fator que ultrapassou determinados limites estabelecidos. Deste modo se conclui que a expressão «a gota de água» é usada como estrutura avaliativa da entidade apresentada como sujeito.
Assim, a mesma situação parece ter lugar na frase apresentada pelo consulente
(2) «Depois de todo o terror, assistir àquilo foi a gota d´agua.»
«ser a gota de água» constitui a avaliação sobre a situação descrita como «assistir àquilo», pelo que este último constituinte desempenha a função sintática de sujeito e «gota d’água» a de predicativo do sujeito.
Refira-se, ainda, que algumas construções copulativas permitem a inversão dos seus termos, adotando ora a estrutura SUJ+VERBO+PREDSUJ ora PREDSUJ+VERBO+SUJ, pelo que se designam construções equativas. Esta possibilidade de inversão dos termos não altera, todavia, as funções sint...
Numa relação de ordem cronológica entre duas situações, como identificar o ponto de referência?
Por exemplo, em «Antes de escrever, o escritor sente-se ansioso», qual é o ponto de referência ?
«Antes de escrever» ou «o escritor sente-se ansioso»?
O ponto de referência é a oração subordinada adverbial temporal.
Os enunciados estabelecem a sua localização temporal em relação a um tempo de referência. Esta referência pode ser constituída pelo momento da enunciação. Assim, o enunciado (1)
(1) «O Luís visitou Lisboa.»
tem uma leitura temporal de anterioridade relativamente ao momento de enunciação, ou seja, a ação de visitar Lisboa teve lugar num intervalo de tempo anterior ao momento em que o enunciado foi produzido.
Em frases complexas, constituídas por duas ou mais orações, as situações descritas pelos verbos articulam-se temporalmente entre si, isto é, organizam-se no eixo temporal em intervalos de tempo que poderão coincidir, ser anteriores ou posteriores. Neste caso, será a oração adverbial que expressa o valor temporal que funcionará como ponto de referência, relativamente ao qual se localiza a situação expressa na oração subordinante. Desta forma, em (2), (3) e (4)
(2) «O Luís almoçou quando a Rita chegou.»
(3) «O Luís almoçou antes de a Rita chegar.»
(4) «O Luís almoçou depois de a Rita chegar.»
A ação de «o Luís almoçar» é localizada no eixo temporal como coincidente com a chegada da Rita (2), como anterior à chegada da Rita (3) ou como posterior à chegada da Rita (4). Note-se ainda que todas as frases são apresentadas como anteriores ao momento da enunciação, se tomarmos como referência o tempo da enunciação.
Na frase apresentada pela consulente, a situação «o escritor sentir-se ansioso» é apresentada como tendo lugar num momento anterior à situação descrita como «o escritor escrever». Deste modo se conclui que a
A conversão da palavra narrativa em modismo, num alargamento quase impensável da significação original da palavra, motiva este apontamento da professora Carla Marques.
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