Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber a origem das palavras louco, maluco e doido.

Resposta:

A palavra louco é de «orig[em] obsc[ura]; f[orma] hist[órica] sXIII louco, sXIII louca»; significa, essencialmente, «que ou aquele cujo comportamento ou raciocínio denota alterações patológicas das faculdades mentais».

O termo maluco («que ou aquele que sofre de distúrbios mentais; doido, louco, alienado») é de «orig[em] contr[o]v[ersa]; para Corominas, o plat[ino] maluco ou malucón "fraco, enfermo" e o der[ivado] maluquera "doença" seriam der[ivados] de malo "mau'" ou de mal "enfermidade"; JM [José Pedro Machado] relaciona ao top[ônimo] Malucas (ilhas Molucas, Indonésia), do voc[ábulo] local Maluku, em conseqüência da impressão que os malucos, habitantes daquelas ilhas, teriam causado aos portugueses, pela ação sangrenta e prolongada, de quem luta feroz e cegamente, durante o levantamento que sustentaram em 1570».

O vocábulo doido é, igualmente, de «orig[em] contr[o]v[ersa]».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Como se escreve: «é uma figura paralelepípeda», ou «é uma figura paralelepipédica»?

Obrigada.

Resposta:

Escreve-se «é uma figura paralelepipédica», e o adjectivo paralelepipédico vem de «paralelepípedo + –ico; f[orma] hist[órica] 1899 parallelepipédico».

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista ainda outro adjectivo derivado do substantivo (nome) paralelepípedo: paralelepipedal (paralelepípedo + -al), considerando-o mesmo a forma preferível (pelo menos, no Brasil); e acrescenta que significa «referente a, ou semelhante a paralelepípedo; paralelepipédico».

Assim, também se pode escrever «é uma figura paralelepipedal».

 

N. E. (18/01/2021) – Em Portugal, o nome paralelepípedo pronuncia-se com e – o e átono (ou mudo) da preposição de – na segunda sílaba -le-, que figura imediatamente antes da sílaba tónica -pí-. Com símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, a palavra transcreve-se  [pɐɾɐlɛlɨ’pipɨdu], sendo [ɨ] o símbolo que representa esse e mudo. Evite-se a pronúncia "paralelipípedo", com [i] pré-tónico. Ver Portal da Língua e Infopédia.

Pergunta:

Qual o sentido explícito que a palavra gratuita empresta à expressão «ofensa gratuita» (um de muitos exemplos).

Muito obrigado.

Resposta:

O adjectivo gratuito quer dizer, além de «que não requer pagamento; de graça, grátis», «sem motivo, sem justificativa; infundado»; é esta a acepção da palavra gratuita na expressão «ofensa gratuita» (= «ofensa sem motivo»).

Pergunta:

Numa recente viagem à Madeira, a guia referiu-se, por várias vezes, ao facto de algumas ilhas do arquipélago (Desertas e Selvagens) se encontrarem "inabitadas". Como sempre ouvi dizer "desabitadas", estranhei mas contive-me.

Está correcta a expressão?

Obrigado.

Resposta:

Sim, está correcta; o adjectivo inabitado significa «sem habitantes; despovoado». Ainda é correcto inabitar («não habitar») e inabitável («impossível de se habitar» ou «que não tem condições para ser habitado»).

Por sua vez, o adjectivo desabitado quer dizer «sem habitantes ou moradores; desocupado; devoluto; deserto». Significa ainda, como particípio passado do verbo da área da náutica desabitar, «com as voltas da amarra soltas da abita». Assim, na acepção mais conhecida e usual, desabitado significa praticamente o mesmo que inabitado.

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Gostaria de saber se as palavras prefixar e sufixar são palavras antónimas. Em relação a prefixo e sufixo, também estas palavras são antónimas?

Resposta:

O Dicionário de Sinónimos e Antónimos da Língua Portuguesa, da Texto Editores, considera antónimas as palavras prefixo e sufixo. Naturalmente, os verbos prefixar (na acepção de «pôr prefixo em») e sufixar, que este dicionário não regista, também são antónimos.

Prefixar significa «fixar com antecedência; determinar; prescrever» e, como já disse, «pôr prefixo em»; por sua vez, sufixar quer dizer «apor sufixo a» e «juntar sufixos» [in Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].