Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Que significa moche? Pelo contexto, deduzo que é um tipo de dança, género hip-hop ou assim.

Resposta:

Moche é palavra registada no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora com o significado de «ato de se atirar para cima de uma ou mais pessoas, geralmente em concertos ou festivais». O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa também acolhe o substantivo, com o mesmo significado. Ambas as fontes o relacionam com o inglês mosh1, e o Oxford English Dictionary regista efetivamente este vocábulo com um significado muito semelhante: «Dance to rock music in a violent manner involving jumping up and down and deliberately colliding with other dancers» (tradução livre: «dançar ao som de música "rock", de uma maneira violenta, aos saltos e chocando de propósito com outros participantes na dança»).

1 Numa página da Internet, diz-se que moche «vem da palavra inglesa mosh e significa aquela espécie de "dança ao pontapé" que qualquer bom amante do rock ou do metal pratica em frente ao palco de um bom concerto de uma banda rock, punk ou metal...».

Pergunta:

Devemos utilizar maiúscula ou minúscula para designar nomes de queijos estrangeiros, como gruyère, emmenthal, etc.?

Resposta:

Escreve-se com minúscula inicial, mesmo que tenha origem em nomes próprios; ex.: «queijo gruyère/emmenthal». Como se trata de nomes estrangeiros, usa-se o itálico. Note-se, porém, que gruyère já tem aportuguesamento: gruiere (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Deve dizer-se «Aí gea?», ou «Aí cai geada?»?

Obrigado.

Resposta:

Se usar o verbo gear – verbo defetivo não muito frequente, só usado na 3.ª pessoa do singular (cf. chover, nevar) –, dirá geia. Bem mais comum é a perífrase «cair geada», e, portanto, é habitual dizer-se que «cai geada» ou «caiu geada».

Pergunta:

Na seguinte frase:

«O juiz comunicou a decisão ao advogado, que, por seu turno, informou o seu cliente.»

Será que esta frase não poderia ser escrita corretamente e com o mesmo sentido, sem utilizar a expressão «por seu turno»? A mim, a frase que se segue parece-me bem: «O juiz comunicou a decisão ao advogado, que informou o seu cliente.» Quando deve ser usada, e de forma obrigatória, esta expressão? Tenho dúvidas em identificar essas situações.

Muito obrigado.

Resposta:

Se suprimir a locução em causa, é verdade que a frase continua correta e mantém o seu significado essencial, o que pode levar a pensar que «por seu turno» é totalmente supérfluo. No entanto, a locução permite marcar melhor o contraste entre os dois agentes referidos na frase: por um lado, «o juiz» e, por outro, «o advogado».

Não há regras que prevejam e imponham o uso da locução «por seu turno», mas o Dicionário Houaiss apresenta alguns exemplos que permitem perceber que a locução funciona como articulador frásico e textual, contribuindo para a coesão dos discurso:

«1  por sua vez, por sua parte. Ex.: general dá ordens ao capitão, que, por seu t., as repassa aos sargentos; 2  por outro lado. Ex.: meu tio estava no supermercado e, por seu t., seu motorista andava pelo estacionamento;  3  pelo que lhe(s) diz respeito ou quando lhe(s) coube a vez. Ex.: o diretor de pessoal, por seu turno, declarou-se incompetente para fazer tal escolha.»

Pergunta:

Parabéns e obrigada pelo vosso site. É uma ferramenta muito útil a todos os que pretendem esclarecer as suas dúvidas a respeito do português.

Observei num jornal a seguinte frase:

«A criança sofreu maus-tratos por parte da sua mãe.»

A minha dúvida prende-se com o significado da expressão «por parte de» e se a mesma frase não estaria correta na mesma, se fosse redigida de outra maneira, por exemplo:

«A criança sofreu maus-tratos pela sua mãe.»

Grata desde já.

Resposta:

Para usar «pela sua mãe», teria de ocorrer na frase um particípio:

(1) «A criança sofreu maus-tratos infligidos/provocados pela sua mãe.»

Quando não é possível a construção de particípio, pode usar a locução «por parte de», de modo a identificar o causador do sofrimento como fonte ou proveniência do complemento de sofrer:

(2) «A criança sofreu maus-tratos por parte da sua mãe.»

Este uso de «por parte de» está descrito no Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (2003), como subentrada de parte: «de/por parte (de) (i) de, proveniente de: Houve a máxima boa vontade por parte das empresas que exploram aquelas estâncias; (ii) por iniciativa de: uma enxurrada de processos da parte dos que se sentiram lesados