Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostava de saber como se escrevem as seguintes palavras de acordo com o novo Acordo Ortográfico: "escapulo-umeral" e "gleno-umeral".

Obrigada.

Resposta:

Recomenda-se, no caso de compostos de terminologias especializadas, como a linguagem médica, que não haja hifenização, pelo que os dicionários registam escapuloumeral, «relativo à escápula e à clavícula» (cf. Dicionário Houaiss e Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora). Seguindo este modelo, deve também escrever-se glenoumeral.

Nos termos médicos em que intervêm radicais de origem grega, o novo Acordo Ortográfico nada altera. Trata-se, portanto, de saber se nestes compostos se tem usado hífen ou não, por exemplo, no contexto da anterior norma ortográfica, ou seja, ao abrigo do Acordo de 1945. No seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947), Rebelo Gonçalves recomendava a escrita destes compostos sempre sem hífen, apesar de na tradição lexicográfica posterior se encontrarem muitos casos em que esta regra não foi seguida e de as regras postuladas pelo referido filólogo não permitirem dar conta de elementos deste tipo que não tenham origem grega ou latina. Os instrumentos oficiais de determinação da ortografia em Portugal e no Brasil seguem em geral esse conselho, registando aglutinadas as formas com cardiorrespiratório, neurodegenerativa, cardioversão, neurocirurgião, psicomotor, psicossociologia, vertebromuscular.

Pergunta:

Escreve-se "vídeo-aula", "videoaula", ou "vídeo aula"?

Resposta:

Recomenda-se videoaula, à semelhança de casos como videoamador e videoarte, que se já se aglutinavam na escrita antes da aplicação do Acordo Ortográfico (cf. Dicionário Houaiss, 2001) e continuam a escrever-se assim atualmente (cf. Vocabulário Ortográfico do Português, no Portal da Língua, e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, na Infopédia).

Pergunta:

Desde quando fácil e rápido são advérbios em português de Portugal?

Resposta:

Não há uma data ou uma época identificadas para marcar o começo do emprego das formas adjetivais rápido e fácil como advérbios. Mas importa lembrar que os advérbios de modo correspondentes são derivados do feminino dessas formas adjetivais e que o caso de alto («falar alto») é exemplo da possibilidade do uso em causa. No português de Portugal, parece ter aceitação rápido em lugar de rapidamente em casos como o de «os aviões voam rápido». Quanto ao uso adverbial de fácil, verifica-se que este é menos habitual em comparação com o português do Brasil (cf. Dicionário Houaiss: «essa louça quebra fácil»).

Pergunta:

Desejo saber qual a forma correta do artigo para comichão. Será «a comichão», como ouço dizer muitas vezes, ou será «o comichão», o qual na minha opinião seria o correto?

Resposta:

A palavra comichão é do género feminino. Vem do latim «comestĭo, onis, "ação de comer, alimentação, mantença; bom para se comer, comível", do rad[ical] de comestum, sup[i]n[o] de comedĕre, "comer"» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Moro numa freguesia chamada S. Veríssimo. Posso considerar-me um "sanverissemense"?

Obrigado.

Resposta:

De S. Veríssimo, podem derivar as formas gentílicas são-verissimense ou sã-verissimense, mas trata-se de formas que não se encontram atestadas.

Anote-se o registo do gentílico verissimense no Dicionário Houaiss, que o atribui ao topónimo Veríssimo (Minas Gerais). A associação com o elemento são no gentílico aqui em causa está sujeita às mesmas variações que apresenta são-tomense, que tem as variantes santomense e sã-tomense (esta pouco usada), ou são-joanense (cf. Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966), que admite a variante sã-joaneense (também pouco usada), relativamente ao topónimo São João da Madeira (distrito de Aveiro).