Pergunta:
Num exercício de um manual de Português aparecia como correta a ligação por hiperonímia entre Europa e Portugal, pelo que surgiu como dúvida se, tendo em conta essa lógica, Lisboa poderia ser considerada como hipónimo de Portugal.
Gostaria de conhecer a vossa posição.
Muito obrigada.
Resposta:
Em primeiro lugar, diga-se que entre nomes próprios não se estabelecem relações de generalidade ou especificidade, ou seja, a dois nomes próprios não é possível aplicar a distinção hierárquica entre hiperónimo e hipónimo. Se, como define o Dicionário Terminológico (DT), um nome próprio «designa um referente fixo e único num dado contexto discursivo, pelo que é completamente determinado, não admitindo complementos ou modificadores restritivos ou variação em número», não se vislumbra maneira de encarar um nome próprio como generalização ou especificação de outro. Por exemplo, não se pode afirmar que Porto Alegre e Porto Moniz são palavras cujo significado especifica o de Porto, nome de cidade portuguesa.
Assim, a respeito de Europa e Portugal, considerar que o primeiro é um hiperónimo do segundo, e este, hipónimo daquele, não tem sentido, porque tal seria pressupor que Portugal nomeia um subtipo de um referente chamado Europa. Do mesmo modo, Lisboa não é uma especificação de Portugal, nem este se pode conceber como palavra de sentido mais genérico que Lisboa. É que, nestes casos, não se verifica a transferência de propriedades semânticas característica das relações de hiperonímia-homonímia (p. ex., «sardinha é hipónimo de peixe, porque também é "peixe"», DT). E ainda que possa objetar-se que Portugal é Europa ou Lisboa é Portugal, no sentido de «ficar na Europa» e «ficar em Portugal», respetivamente, deve contrapor-se a impossibilidade da substituição da palavra Portugal por Europa em discurso, como se mostra em 1:1<...