Pergunta:
Segundo o Dicionário Português-Latino, da autoria de Francisco Torrinha, e do Dicionário Latino-Português, da autoria de Santos Saraiva, arminho se traduz em latim por mus ponticus, literalmente «rato pôntico», isto é, rato da região do Ponto, Ásia Menor, a cuja fauna ele pertence. Apesar do nome, não se trata de um rato, mas de um mustelídeo. Certamente essa denominação latina deve-se ao fato de que, na imaginação dos romanos, o arminho, pelas suas formas físicas, fazia lembrar de um rato.
Por outro lado, os hodiernos dicionários da língua portuguesa dizem que a palavra arminho é proveniente da locução latina armenius mus, literalmente «rato armênio», certamente pelo fato desse animal fazer parte também da fauna da Armênia, país lindeiro com a sobredita região do Ponto. Embora os dicionários nada digam sobre a evolução da expressão, suponho que o segundo elemento da mesma, “mus”, desapareceu em algum momento, restando apenas o primeiro, “armenius”, o qual, ao longo dos séculos, evoluiu até tomar a forma atual, arminho.
Esta última denominação latina, “armenius mus”, não figura em nenhum dos dicionários latim-português e vice-versa que pude consultar, que, aliás, me parecem ser basicamente do latim da Antiguidade mais recuada, isto é, de alguns séculos antes de Cristo até os três primeiros séculos da nossa Era, o que me faz pensar que a razão dessa ausência se deve ao fato de que a expressão “armenius mus” talvez não seja desse período, mas de uma época posterior, de um latim tardio, da fase final da Idade Antiga (séculos IV ou V), talvez até mesmo medieval, uma vez que na Idade Média o latim continuava a ser usado em diversas atividades humanas, embora não fosse mais falado por nenhum povo no cotidiano.
Assim sendo, indago-vos se armenius mus, ori...
Resposta:
A expressão latina armenius mus não parece ter sido criada ou introduzida em latim clássico, dado que que não consta do Dictionnaire Gaffiot Latin-Français (1934), que dá primazia ao latim clássico, nem é registado por Charlton T. Lewis e Charles Short, em A Latin Dictionary (1879), cujas abonações são também maioritariamente de autores clássicos. A expressão que estas fontes registam é efetivamente, como diz o consulente, a expressão mus ponticus, ou seja, «rato do Ponto» (Ponto era a região no Norte da Ásia Menor, junto do mar Negro).
Sobre a etimologia de arminho, designação de um «mamífero carnívoro da fam. dos mustelídeos (Mustela erminea), encontrado na tundra euro-asiática e norte-americana; com cerca de 30 cm de comprimento, pelagem vermelho-acastanhada no verão e branca no inverno» e, por extensão de sentido, «[d]a pele ou o pêlo desse animal» (Dicionário Houaiss), José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (1987), dá a seguinte informação:1
«Do cast[elhano] armiño, este, por sua vez, do francês hermine, ermine no [francês?] arca[aico], da denominação armenius mus, «rato da Arménia», porque estas peles vinham das terras que naquele tempo ficavam englobadas na designação geral da Arménia, todas próximas do Mar [sic] Negro, o que justifica o nome de ponticus mus usado em lat[im] clássico para o mesmo produto. Séc. XIII: "Vi coteiffes com arminhos", Afonso X, o Sábio, em C.B.N. [= Cancioneiro da Biblioteca Nacional], N.º [436]. Como adj. no séc. XIV: "...era forrado en penna armiña... e a penna he mais delga...