Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Provérbio, aforismo ou dístico... Há alguma diferença entre estes termos?

Resposta:

Sobre a definição dos termos provérbio, aforismo e dístico, basta consultar um dicionário geral para ficar com a noção de que têm referentes diferentes. Assim, a consulta do Dicionário Houaiss permite-nos compreender que os três termos podem ser usados em aceções próximas, mas mesmo assim ligeiramente diferentes:

provérbio: «frase curta, ger. de origem popular, freq. com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral (p. ex.: Deus ajuda a quem madruga)»;

aforismo: «máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral» e «texto curto e sucinto, fundamento de um estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica, ger. relacionado a uma reflexão de natureza prática ou moral»;

dístico (cito apenas as aceções mais afins aos significados dos termos anteriores): «estrofe mínima, composta de dois versos; parelha» e «máxima expressa em dois versos».

Em suma, o provérbio e o aforismo distinguem-se pelo facto de o primeiro ter origem popular e o segundo ser criado no quadro da reflexão filosófica. O dístico é uma forma poética que pode conter uma máxima.

Pergunta:

Malformação, ou «má formação»?

Resposta:

No Ciberdúvidas, já existe resposta sobre esta palavra, mas refira-se novamente que o Portal da Língua Portuguesa e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa confirmam malformação como forma correta.

Pergunta:

Tosta (s. f.) pronuncia-se "tôsta", ou "tósta"?

Resposta:

A palavra tosta tem o aberto (transcrição fonética: [`tɔʃtɐ]); cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e Aulete Digital).

Pergunta:

«Da boa ação, se Deus sabe, ninguém mais precisa saber. Da má ação, se Deus não sabe, alguém Lhe fará saber.»

Gostaria de uma explicação sobre o provérbio acima, especialmente a segunda frase.

Resposta:

Parece-me que o provérbio apresentado encerra a seguinte ideia: as boas ações acabam por ser recompensadas, e as más têm sempre castigo.

Sobre a segunda frase, não vejo dificuldade de interpretação: tal como a primeira, apresenta a topicalização à esquerda de um complemento oblíquo («da boa ação» e «da má ação»). A ocorrência deste tipo de complemento verbal é compatível com o verbo saber («saber de alguma coisa»), mesmo quando ocorre numa oração não finita selecionada por um verbo causativo («fazer saber alguma coisa/de alguma coisa»).

Pergunta:

«A história ou, mais precisamente, a historiografia tem participado desse diálogo por meio de contribuições com origem em alguns de seus ramos, como a história intelectual e a história política renovada.»

«A história, ou mais precisamente a historiografia, tem participado desse diálogo por meio de contribuições com origem em alguns de seus ramos, como a história intelectual e a história política renovada.»

Afinal, como devo pontuar essa frase?

Resposta:

Recomendo a segunda opção, visto a expressão «mais precisamente» introduzir, de forma semelhante a um aposto, a retificação ou a especificação de uma expressão imediatamente anterior no contexto frásico:

1. «A história, ou mais precisamente a historiografia, tem participado...»

A expressão «ou mais precisamente» poderia também ocorrer sem a conjunção coordenativa disjuntiva ou: «A história, mais precisamente a historiografia, tem...»

Não encontro informação em gramáticas ou prontuários que reforcem esta minha recomendação. Na falta de outras fontes normativas, a observação de corpora linguísticos pode ser útil para definir um padrão de uso. Por isso, compare-se 1 com a pontuação das frases 2 e 3, recolhidas no Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira:

2. «A França, mais precisamente Paris, passou a ser o centro das atividades artísticas.»

3. «No século XV, mais precisamente em 1442, fundou-se a Gilda de São Lucas.»

Os exemplos 2 e 3 permitem evidenciar que «mais precisamente X» se usa habitualmente entre vírgulas.